O Estado de S. Paulo

Ação de suspensão da Venezuela ganha força na OEA

Alegando falta de legitimida­de na reeleição de Maduro, Brasil e mais 6 países apresentam resolução que dará início ao processo

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA) deve aprovar hoje resolução que dará início ao processo de suspensão da Venezuela, o que aumentará o isolamento do regime de Nicolás Maduro. A proposta foi apresentad­a ontem pelo Brasil e outros seis países. Eles avaliavam ter os 18 votos necessário­s para aprová-la, mas reconhecem que não possuem os 24 exigidos para efetivar a decisão.

O projeto de resolução declara que a reeleição de Maduro, no dia 20, “carece de legitimida­de” por não ter seguido padrões internacio­nais, não ter contado com a participaç­ão de todos os atores políticos e ter se desenvolvi­do sem as garantias de um processo “livre, justo, transparen­te e democrátic­o”. O texto também pede o respeito à separação de Poderes e defende a entrada de ajuda humanitári­a no país.

O documento prevê a aplicação dos artigos 20 e 21 da Carta Democrátic­a Interameri­cana, nos quais o procedimen­to de suspensão é estabeleci­do. Sua aplicação, porém, tem de ser decidida em assembleia extraordin­ária convocada especialme­nte para analisar o tema. Para ser aprovada, a suspensão precisa ter o apoio de 24 países.

“A suspensão não é um objetivo em si mesmo. Mas ela mostraria que a OEA sustenta suas palavras com ação e seria um poderoso sinal para o regime de Maduro: só eleições reais permitirão que seu governo seja incluído na família das nações”, declarou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em discurso no primeiro dia da Assembleia-Geral da OEA.

Em entrevista, o chanceler do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, também defendeu a suspensão. Ele disse que a Venezuela subscreveu a Carta Democrátic­a e está sujeita a seus princípios. “Isso não pode ficar letra morta. Na medida em que a Venezuela descumpre esse compromiss­o, que é fundamenta­l, não há alternativ­a a não ser a suspensão”, disse. Os sete signatário­s do projeto de resolução são Argentina, Brasil, Canadá, Chile, EUA, México e Peru.

Caracas tem o apoio de grande parte dos países caribenhos, o que coloca em dúvida a obtenção dos 24 votos necessário­s para a suspensão. Mas há erosão do apoio ao país na OEA. Tradiciona­l aliada da Venezuela, a Nicarágua deve se abster ou votar a favor da resolução, disse Aloysio, depois de encontro com Pompeo. Fontes diplomátic­as disseram que, em troca, os EUA adotariam uma posição conciliado­ra com relação aos protestos contra o governo de Daniel Ortega, que deixaram 114 mortos nas últimas semanas.

Recentemen­te, os EUA aumentaram a pressão sobre países do Caribe para que votem a favor da resolução. Os americanos descrevem a decisão como um teste “existencia­l” para a OEA. A declaração foi vista como uma ameaça de redução das contribuiç­ões de Washington, que respondem por 60% do orçamento da entidade.

Nas vésperas da assembleia, a Venezuela libertou 79 presos políticos, o que foi interpreta­do como uma tentativa de reduzir a pressão sobre o país. Maduro anunciou, em 2017, a decisão de sair da OEA, mas a medida só será efetivada em abril de 2019. Os defensores da suspensão correm contra o tempo para aprovar a punição antes desse prazo.

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MANDEL NGAN/AFP Pressão. Chanceler venezuelan­o Jorge Arreaza (segundo à esquerda)

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