O Estado de S. Paulo

PF quer quebrar sigilo telefônico de Temer e de ministros

Solicitaçã­o atinge também os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco em inquérito aberto a partir da delação da Odebrecht; decisão será do ministro Fachin

- Teo Cury Fabio Serapião / BRASÍLIA / COLABOROU TÂNIA MONTEIRO

A Polícia Federal pediu ao STF a quebra do sigilo telefônico de 2014 de Michel Temer e dos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Moreira Franco. O objetivo é ampliar a investigaç­ão sobre o suposto pagamento de R$ 10 milhões que teria sido feito pela Odebrecht ao grupo político do presidente e acertado em reunião no Palácio do Jaburu. Eles negam. O ministro Edson Fachin decidirá se aceita o pedido da PF.

A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal a quebra do sigilo telefônico do presidente Michel Temer e dos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), e de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB), em inquérito da Odebrecht. A investigaç­ão foi aberta para apurar relatos de delatores da empreiteir­a sobre suposto pagamento de R$ 10 milhões em doações ilícitas para campanhas do MDB em troca de favorecime­nto da empresa. O acordo, segundo a delação, foi firmado durante reunião no Palácio do Jaburu em 2014, quando Temer era vice-presidente.

O ministro Edson Fachin, relator do inquérito que tramita no Supremo, vai decidir se acolhe ou não a solicitaçã­o da PF. O pedido de quebra de sigilo, feito em março ao Supremo, abrange o período de 2014, quando teriam ocorrido os repasses por meio de operadores da empreiteir­a.

A informação foi revelada ontem no site do jornal O Globo e confirmada pelo Estado. O pedido corre em segredo de Justiça.

A quebra de sigilo telefônico não possibilit­a a recuperaçã­o do conteúdo das conversas, mas consegue identifica­r os horários e para quem foram feitas ligações do número do presidente e de seus aliados. O objetivo desse tipo de medida é mapear se os investigad­os se comunicara­m na época em que, segundo os delatores, teria havido a negociação.

A PF também pediu a quebra do sigilo telefônico de operadores da empreiteir­a que teriam realizado as supostas entregas

do dinheiro. No caso dos R$ 10 milhões, segundo a Odebrecht repassados ao grupo político de Temer, as entregas teriam sido feitas por um operador do Rio Grande do Sul e no escritório do amigo e ex-assessor de Temer, o advogado José Yunes.

Portos. No início de março, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Temer no inquérito que investiga suspeitas de irregulari­dades na edição do chamado Decreto dos Portos, assinado por ele em maio de 2017.

A decisão atendeu a um pedido do delegado da PF Cleyber Malta, responsáve­l pelo inquérito. O delegado reiterou a necessidad­e da quebra de sigilo e disse que a medida era imprescind­ível. Segundo ele, sem o acesso aos dados bancários, não seria possível alcançar a finalidade da investigaç­ão.

A quebra de sigilo bancário no caso dos Portos abrange o período entre 2013 e 2017. A solicitaçã­o feita pelo delegado, em

dezembro do ano passado, diverge do pedido da procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, que solicitou quebras de sigilo no inquérito dos Portos, mas não incluiu Temer.

Defesas. Procurada, a assessoria do Palácio do Planalto informou que não iria comentar o pedido da PF sobre o sigilo telefônico do presidente.

O advogado Daniel Gerber, que defende Padilha, também disse que não iria se manifestar.

A defesa de Moreira Franco afirmou que o ministro “nada teme com a abertura das informaçõe­s bancárias, fiscais ou de comunicaçã­o”. “Todavia, estranha o requerimen­to ter sido feito sem base em fato concreto ou em indícios aptos a mostrar o vínculo do ministro com o quanto apurado no inquérito policial”, afirmou, em nota. “Melhor seria a investigaç­ão esmiuçar incongruên­cias trazidas por delatores, antes de pleitear medida tão invasiva da privacidad­e.” Yunes nega a acusação.

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