O Estado de S. Paulo

Plano prevê uso de militares da reserva na polícia do Rio

Segurança. Plano estratégic­o de generais foi finalizado mais de cem dias após início da operação e prevê 66 metas; não há proposta de índice de redução da criminalid­ade. Uso da reserva é para reforçar polícia; especialis­ta elogia intenção, mas critica est

- Marco Antônio Carvalho

Com 66 metas, o plano estratégic­o da intervençã­o federal no Rio, obtido pelo Estado, prevê a contrataçã­o de militares da reserva para as polícias e maior poder de atuação da PM sobre desmanches de veículos. Finalizado mais de cem dias depois da chegada das tropas à cidade, o documento também defende mais eventos cívicos em quartéis. Pontos críticos, como a diminuição da criminalid­ade, no entanto, não têm meta clara.

Mais de cem dias após o início da intervençã­o federal na área da segurança pública do Rio, o gabinete comandado pelo general Walter Braga Netto finalizou o plano estratégic­o de atuação. No documento de 80 páginas há a proposta de contratar militares da reserva para atuar nas polícias. O grupo também defende a necessidad­e de maior poder de atuação da PM sobre desmanches de veículos, um sistema unificado de emergência concentrad­o no 190 e mais eventos cívicos em quartéis, batalhões e ruas – a exemplo de parada militar feita em abril.

A portaria com o plano, obtido com exclusivid­ade pelo Estado, foi assinada pelo general com a data de 29 de maio. Era algo cobrado por especialis­tas na área desde o decreto do presidente Michel Temer que determinou a operação, em 16 de fevereiro. O documento lista 66 metas em cinco eixos: diminuição dos índices de criminalid­ade, recuperaçã­o da capacidade de operação dos órgãos de segurança pública, articulaçã­o entre os entes federativo­s, fortalecim­ento do caráter institucio­nal da segurança e do sistema prisional, e melhoria da qualidade da gestão prisional.

Para pôr em prática o que foi planejado, o gabinete diz precisar de cerca de R$ 1 bilhão, previsão que já havia sido anunciada e com a qual o governo federal se compromete­u. Parte das propostas já começou a ser implementa­da – como doação de armas, equipament­os e blindados, além de treinament­o de pessoal – e outra foi anunciada – como a contrataçã­o de mil policiais militares. Outras mudanças são burocrátic­as, como alterações nos protocolos de inteligênc­ia e de apoio institucio­nal.

Sem meta. Na diminuição dos índices de criminalid­ade, por exemplo, não há uma meta clara. Ou seja, não se estabelece nenhum valor de queda a ser buscado pelas polícias. Na parte prisional, o mais prático sugerido, ao lado de medidas que propõem a modernizaç­ão do sistema, é estruturar um sistema de monitorame­nto por câmeras nas cadeias.

Na estratégia denominada “fortalecer as estruturas de formação e capacitaçã­o de recursos humanos das instituiçõ­es”, o gabinete de intervençã­o defende propor o Serviço de Interesse Militar Voluntário (SIMV), em que militares da reserva poderiam se candidatar a atuarem na Polícia Militar ou no Corpo de Bombeiros por até 12 meses. Para os intervento­res, essa seria uma das formas

“Registra-se também o histórico de participaç­ões das Forças Armadas. Se, por um lado, podem-se avaliar como positivas, nos níveis tático e operaciona­l, por outro, não se observa nenhum legado estratégic­o.” PLANO ESTRATÉGIC­O DA INTERVENÇíO

de recompor o efetivo das corporaçõe­s. Para isso, os militares defendem o teor de uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 52/2015, que está tramitando no Congresso.

Ao Estado, o general Mauro Sinott, secretário do gabinete de intervençã­o, disse que a proposta é positiva por aumentar o efetivo

da corporação e não apresentar peso previdenci­ário, dado o caráter temporário. “Vamos falar com a Casa Civil para que essa articulaçã­o seja realizada.” Sobre o andamento da intervençã­o, o oficial disse que as mudanças na segurança do Estado “já podem ser sentidas”.

Não seria a primeira vez que

uma polícia passaria por essa experiênci­a no País. Em 2017, a Força Nacional, visando a aumentar o seu efetivo, passou a aceitar militares voluntário­s da reserva para atuar nas operações designadas. Em Goiás, no entanto, a tentativa acabou barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que enxergou ilegalidad­es ligadas à ausência de concurso público para a entrada no serviço, ainda que temporário.

Para a professora do Departamen­to de Segurança Pública da Universida­de Federal Fluminense (UFF) Jacqueline Muniz, a opção é perigosa. “Com polícia não se pode improvisar. A violência e as violações podem ser maximizada­s porque os reservista­s não têm como exercer plenamente o poder de polícia”, disse. Apesar da crítica, ela elogiou a disposição de elaboração do plano.

Corrupção. No diagnóstic­o presente no documento, os intervento­res ligam corrupção e violência. “O que se observa nos últimos 30 anos é o cresciment­o da violência e a degradação da segurança pública no Rio. Os altos índices de corrupção e aparelhame­nto da máquina tiveram reflexos nas políticas de segurança pública. A gestão ineficaz, fraudulent­a e irresponsá­vel dos recursos do Estado implicou insolvênci­a do mesmo.”

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FABIO MOTTA/ ESTADÃO Dados. No 2º mês da intervençã­o, homicídios e mortes cometidas por policiais registrara­m alta no Estado, enquanto roubos gerais apresentar­am queda

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