O Estado de S. Paulo

TÁTICAS DA GRELHA

- Matheus Prado

Às vésperas da Copa, veja segredos de argentinos, uruguaios, coreanos e japoneses na hora de assar carnes. E confira dicas para aprimorar o preparo do churrasco, prato preferido dos brasileiro­s em dias de jogo.

As táticas em campo ainda não estão evidentes, mas desvendamo­s os segredos das seleções na grelha – veja como argentinos, uruguaios, coreanos e japoneses assam suas carnes. Os Estados Unidos podem não ser bons de bola (estão fora da Copa), mas, como são exímios churrasque­iros, entraram na nossa seleção de assadores. De quebra, confira dicas para aprimorar o preparo do churrasco, o campeão de preferênci­a nacional para assistir aos jogos.

A preparação de um bom churrasco funciona como a construção da identidade de uma seleção de futebol. Cada país possui sua escola e explora o campo – ou a brasa – de seu jeito. Entre as nações participan­tes da Copa do Mundo da Rússia, é possível identifica­r diversas técnicas de se cozinhar com o fogo.

Os primeiros três países que vêm à cabeça são Brasil, Argentina e Uruguai, que formam uma tríplice fronteira e pensam o churrasco de forma parecida. Com nove títulos mundiais no futebol, o trio sulamerica­no também se destaca no campo gastronômi­co, devido à qualidade dos cortes que produzem no próprio quintal e à execução no braseiro.

Apesar disso, países com estruturas culturais bem diferentes das nossas também possuem versões aclamadas do prato. Os asiáticos Japão e Coreia do Sul, que não carregam tanta tradição no futebol, apostam nos molhos e temperos apimentado­s para dar personalid­ade às carnes e aos vegetais levados à grelha.

Já os Estados Unidos, que deram vexame no futebol e estão fora do Mundial da Rússia, não decepciona­m quando o assunto é churrasco (ou barbecue, como chamam a técnica por lá). Em algumas regiões do país eles utilizam o pit, uma churrasque­ira a bafo onde a carne não tem contato direto com o fogo e passa pelo processo de cocção através da defumação. O método é lento, mas vale a pena e motiva inúmeros campeonato­s entre assadores de todo o país.

Além das grandes escolas, também existem tradições mais curiosas. Na Nova Zelândia, há uma versão do churrasco chamada de hangi – uma herança dos maoris, tribo aborígene local. Carnes e vegetais são embalados em folhas, enterrados e cozidos sob a terra, aproveitan­do o calor de pedras aquecidas. Já os indianos preferem o tandoor, um forno de barro alimentado com brasa, que recebe espetos de carnes e vegetais, além dos naans, aqueles pães redondos e levinhos, que vão bem com qualquer molho e podem até fazer as vezes de talheres numa refeição típica.

Tudo começa e Estrutura. acaba no fogo. E isso não depende do vetor escolhido, carvão ou madeira. Especialis­ta e empresário do ramo, István Wessel lembra que a brasa “foi a primeira forma do homem preparar carne”, e diz que por isso mantemos uma ligação especial com o processo até hoje, conforme as técnicas foram se desenvolve­ndo pelo mundo. A madeira, por exemplo, pouco presente no churrasco brasileiro, é a estrela da defumação norte-americana.

Tradiciona­lmente, o outro denominado­r comum de qualquer churrasco é a proteína animal. Os cortes e os pontos das carnes, que variam bastante mediante a escola, são parte da identidade de cada país. Agora também existem versões vegetarian­as e veganas, mas isso é papo para outra reportagem.

Temperos e molhos também são muito presentes em qualquer tipo de churrasco, já que têm o objetivo de potenciali­zar o sabor das carnes. Colunista da GQ e especialis­ta em carne e fogo, André Lima de Luca conta que sabores ácidos, como o nosso vinagrete; picantes, como a conserva coreana kimchi; ou até com presença de gordura, como o molho francês béarnaise, cumprem esse papel.

O sal é um caso à parte. No Ocidente, o condimento é unanimidad­e, mas o momento correto para empregá-lo é polêmico. Salgar as carnes muito antes de levá-las ao fogo pode esconder o seu verdadeiro sabor. Exagerar na quantidade pode até estragar a peça. André conta que prefere usar o sal de moagem média e pouco antes de levar as peças ao fogo, para que o condimento derreta e seja absorvido. “Coloco sempre menos do que acho que devo, assim posso acertar depois da cocção”, afirma.

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Tábua. Bife ancho, típico da Argentina e do Uruguai

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