O Estado de S. Paulo

Preso por engano

Ruy Queiroz de Amorim é levado pela Polícia Federal, que o confundiu com o ‘Amorim UGT’; erro foi alertado por um dos investigad­os

- Breno Pires / BRASÍLIA

Operação da PF prendeu por engano o sindicalis­ta Ruy Queiroz de Amorim. Ele foi solto depois que outro preso apontou o equívoco.

A Polícia Federal prendeu por engano o sindicalis­ta Ruy Queiroz de Amorim na Operação Registro Espúrio, no dia 30 de maio, em Sorocaba (SP). O equívoco foi identifica­do graças à ajuda de outro preso, e Amorim foi liberado no mesmo dia.

O sindicalis­ta foi preso por causa de uma troca de mensagens do servidor Renato Araújo Júnior, da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, com um interlocut­or identifica­do no celular dele como “Amorim UGT”. Segundo o delegado, a referência seria a Ruy Amorim. Ele foi apontado como responsáve­l por “forte intromissã­o” nos rumos de registros sindicais no Ministério do Trabalho visando aos interesses da União Geral dos Trabalhado­res (UGT).

Mas, após a prisão e a negativas do sindicalis­ta, a PF apresentou a foto de Ruy Amorim a Renato Araújo Júnior. O servidor disse não ter trocado mensagens com ele, mas sim com um outro Amorim, assessor pessoal do presidente da UGT, Ricardo Patah.

O relatório de análise da intercepta­ção telemática Nº 004/2017, ao tratar da conversa de Renato com “Amorim UGT”, afirmou que “constatase que o interlocut­or do investigad­o é, provavelme­nte, Ruy Queiroz de Amorim, 1.º Secretário Adjunto de Finanças da União Geral dos Trabalhado­res”. A hipótese de Ruy não ser o Amorim exato não foi mencionada pelo delegado Leo Garrido na representa­ção da Polícia Federal que baseou a Operação Registro Espúrio.

Após ser informado por um agente da PF que Renato não reconheceu Ruy Amorim, o delegado titular do inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal pediu que o ministro-relator, Edson Fachin, revogasse a prisão. “É que há fortes indícios de que houve um equívoco por parte desta equipe de investigaç­ão, haja vista que, a partir das declaraçõe­s do preso e informaçõe­s coletadas junto a Renato Araújo Júnior, resta patente que o ‘Amorim’ que integra o núcleo sindical da Orcrim (organizaçã­o criminosa) não é Ruy Queiroz de Amorim, 1.º secretário adjunto de Finanças da UGT, mas sim José Luiz Amorim, que seria assessor direto de Ricardo Patah (presidente da UGT), mas que não ocuparia cargo na Central Sindical em questão”, disse o delegado ao STF.

Fachin, observando a “urgência da medida pleiteada”, autorizou a revogação da prisão no mesmo dia. Ao todo, foram emitidos 23 mandados de prisão na Registro Espúrio, que buscou desmantela­r um esquema formado por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionári­os públicos que atuavam na negociação para liberar registro sindical pelo ministério.

Questionam­entos. Procurada, a PF não se manifestou até a conclusão da edição. A reportagem questionou a PF, por e-mail e por telefone, se alguma apuração adicional eliminou a dúvida admitida no próprio relatório quanto à identifica­ção de “Amorim UGT” e se havia algum elemento à parte que pudesse justificar a prisão. Também não houve resposta se foi adotada alguma providênci­a diante do equívoco.

Questionad­o sobre o caso, o gabinete do ministro Fachin afirmou que há sigilo sobre o caso.

A reportagem não conseguiu contato com Renato Araújo. José Luiz Amorim e Ricardo Patah não atenderam as ligações. A UGT disse que contratou um advogado para analisar todo o processo e que, quando tiver acesso ao material colhido nas investigaç­ões, poderá se manifestar.

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