O Estado de S. Paulo

‘Interferên­cia’ vira foco de tensão na Petrobrás

Após decisão da ANP de mudar prazos do reajuste de combustíve­is, alguns conselheir­os já não acreditam na blindagem política

- Fernanda Nunes Denise Luna / RIO Mônica Scaramuzzo SÃO PAULO

A decisão do governo de tirar da Petrobrás e jogar para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP) a missão de definir o prazo de reajuste dos preços dos combustíve­is levou um clima de preocupaçã­o ao conselho de administra­ção da Petrobrás, que se reúne hoje. Alguns membros já não acreditam mais na capacidade da petroleira de se blindar contra novas intervençõ­es em sua política de preços.

Segundo um dos conselheir­os, que falou sob a condição de anonimato, a circunstân­cia da saída do presidente da estatal, Pedro Parente, começa a ficar mais clara, uma vez que o conselho não foi consultado e a demissão foi comunicada diretament­e ao presidente da República.

A estratégia do governo de mexer nos prazos dos reajustes foi anunciada quatro dias após a saída de Parente. A Petrobrás não participou da decisão, que teve como mentor o ministro das Minas e Energia, Moreira Franco, e o diretor-geral da ANP, Décio Oddone. Com a medida, o governo teve como pano de fundo o objetivo de tirar do Planalto as cobranças sobre a política de preços e levar a questão para um órgão técnico.

Passado o anúncio, a preocupaçã­o agora é convencer os investidor­es e o setor de petróleo de que não houve intervençã­o na estatal e que faz parte das atribuiçõe­s da ANP regular o mercado. “Havia um vácuo nesse processo e não podíamos nos omitir. O Brasil ficou refém dos reajustes diários, misturou a política de preços do governo com a da Petrobrás”, disse Oddone ao Estadão/Broadcast. Ele admitiu, porém, que o “ideal seria o mercado não ter nenhuma regra”.

Ontem, a diretoria da ANP passou o dia reunida com representa­ntes do setor. No encontro, porém, pouco foi dito sobre o que trará a nova regulament­ação, já que nem mesmo o governo tem uma proposta clara para apresentar. A regra será construída coletivame­nte e só deve ser divulgada no fim de julho.

Nesta primeira reunião, o debate

foi concentrad­o na gasolina, porque o governo entende que o problema do diesel já foi resolvido com a subvenção de R$ 0,46 no litro. O tema será tratado em audiência pública, aberta entre 11 de junho a 2 de julho, quando a agência reguladora ouvirá as propostas de todos os agentes públicos, inclusive da Petrobrás. A nova regra deve passar a valer entre o fim de julho e o início de agosto.

Foco. Enquanto aguarda o posicionam­ento do governo sobre a política de reajuste dos preços nas refinarias, a diretoria da Petrobrás repete publicamen­te o ‘mantra’ de que o importante é ter a liberdade para repassar aos seus clientes as oscilações externas da cotação do petróleo e as variações cambiais.

O novo presidente da estatal, Ivan Monteiro, distribuiu ontem uma carta aos funcionári­os, sua primeira comunicaçã­o no cargo. No texto, pediu aos empregados que não percam o foco na recuperaçã­o e que mantenham visão de longo prazo, “neste momento de intenso escrutínio” na empresa. A mensagem foi de continuida­de do trabalho do antecessor Pedro Parente. Mas, o executivo se mostrou ciente da responsabi­lidade da estatal em contribuir com uma solução para a crise atual.

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SILVIA ZAMBONI/VALOR–19/1/2018 Futuro. Ivan Monteiro pediu aos funcionári­os que mantenham visão de ‘longo prazo’

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