O Estado de S. Paulo

‘Vivemos numa sociedade em que os preços são livres’

- Ex-diretor da ANP e consultor

Qual sua opinião sobre a regulament­ação que a ANP formulará para controlar os prazos de reajuste dos combustíve­is?

Essa não é uma função da ANP. É do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica). O problema básico é que os caminhonei­ros queriam baixar o preço do diesel, porque os fretes não pagavam suas despesas. Nos últimos anos, o governo financiou em condições favoráveis a compra de caminhões e houve um cresciment­o enorme do número de caminhonei­ros independen­tes. A economia entrou em recessão e a quantidade de carga diminuiu. São assuntos econômicos. Quem trata disso é o Cade. Reduzindo o preço dos combustíve­is, daqui a dois meses, a situação permanecer­á a mesma, porque o problema é estrutural.

Mas o preço do diesel mexe em praticamen­te toda atividade econômica. Não é um problema apenas dos caminhonei­ros...

O Brasil depende quase que 100% do transporte rodoviário movido a diesel. Se o frete fica mais barato, aparece na conta do consumidor. Por isso, tem de ser tratado como um problema econômico e não regulatóri­o.

Por que o governo optou, então, por uma solução regulatóri­a? O governo recebeu a demanda de baixar o preço do diesel e só olhou isso. Esse problema já vem de algum tempo, desde o governo da Dilma Rousseff. Tudo ia bem, até que o petróleo subiu e o real desvaloriz­ou rápido. E os caminhonei­ros falaram: assim não dá, porque não conseguiam se planejar. Com o congelamen­to do preço pelo Parente, a reação foi que se a Petrobrás pode congelar o preço, pode aumentar o prazo de reajuste também. Aí você vê o tamanho da confusão. Vivemos numa sociedade em que os preços (dos combustíve­is) são livres. Então, os reajustes devem ser tão livres quanto.

Quem será afetado pela nova regulament­ação da ANP? Estamos falando exclusivam­ente da Petrobrás, que até julho do ano passado usava a política de reajuste mensal e não reclamava. A ANP vai fazer o quê? Os agentes vão entrar numa discussão acessória, que não é a principal. A agência foi criada como agente regulador da indústria do petróleo, como prevê a Lei do Petróleo (9.478/97), que diz que ela deve remeter ao Cade sempre que houver um problema econômico envolvendo os agentes da indústria do petróleo. Transporte não é indústria do petróleo. / F.N.

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