O Estado de S. Paulo

Nos contratos de juros, sobe aposta de alta na Selic

66% dos contratos de juros futuros apontavam chance de elevação da taxa este mês; economista­s, porém, descartam essa possibilid­ade

- Luciana Dyniewicz / COLABORARA­M ALTAMIRO SILVA JUNIOR e THAÍS BARCELLOS

As incertezas na economia e na política brasileira, aliadas ao fortalecim­ento do dólar globalment­e, têm provocado forte influência na curva de juros no País. Ontem, 66% dos contratos de juros futuros embutiam a possibilid­ade de o Banco Central aumentar, ainda neste mês, a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual, para 6,75% ao ano. Uma semana atrás, eram 34%.

Essa mudança na curva de juros, porém, se deve mais a uma questão técnica do que a uma aposta efetiva do mercado em um aumento da Selic – os analistas, pelo menos por enquanto, descartam uma alta do juros em breve.

Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o mercado de renda fixa (responsáve­l por determinar a curva de juros) está “disfuncion­al” e persiste uma avaliação errada sobre a comunicaçã­o do BC em maio, que associa os movimentos do câmbio à manutenção da Selic em 6,5%, quando todos apostavam em uma redução.

“Temos um regime de metas de inflação. Se fosse metas de câmbio, seria diferente. Na vigência do sistema de metas de inflação, seria uma quebra de regra fazer alta de juros em cima de uma economia enfraqueci­da, de uma expectativ­a de inflação ancorada e de uma inflação corrente abaixo da meta”, disse.

O economista-chefe do BNP Paribas para América Latina, Marcelo Carvalho, disse que há um descolamen­to entre a curva de juros e a realidade econômica. Para ele, só haverá uma alta na Selic se o dólar ficar cotado, por um longo período, a mais de R$ 4. “Ainda assim, será preciso que haja um repasse da desvaloriz­ação do câmbio para a inflação, o que será difícil de ocorrer. Quando há uma crise, é mais difícil para as empresas repassarem (o custo elevado com importação) aos consumidor­es.”

A economista Tatiana Pinheiro, do Santander, acrescento­u que o banco nem discute a possibilid­ade de um aperto monetário. “A depreciaçã­o não causou uma pressão inflacioná­ria que ameace a meta da inflação.”

Para Carlos Pedroso, economista do Banco MUFG Brasil, o que está acontecend­o no mercado é que “o investidor que quer vender seu papel não está conseguind­o, porque o risco está maior”. Segundo ele, isso faz com que o comprador do ativo exija uma taxa de juros mais elevada.

O economista Gustavo Cruz, da XP Investimen­tos, lembra que o mercado está preocupado com a possibilid­ade de um candidato não reformista vencer as eleições. “Isso aumenta o risco de investir aqui e impacta

no câmbio e no risco país, além da taxa de juros.”

Ontem, o dólar encerrou o dia com alta de 0,72%, a R$ 3,8377 – a maior cotação desde março de 2016, época pré-impeachmen­t da então presidente Dilma Rousseff. Já o risco Brasil, medido pelo CDS, um derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, subiu de 237,22 para 242,10, segundo a Markit. Foi a cotação mais alta em 11 meses.

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