O Estado de S. Paulo

Tecnologia e bruxaria se misturam em ficção

Elogiado por Stephen King, ‘HEX’ é lançado no Brasil e vira série de TV

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

Histórias de terror são universais, mas a relação de proximidad­e do público pode ser decisiva para fazer sucesso. Foi pensando nisso que o autor holandês Thomas Olde Heuvelt resolveu adaptar sua obra HEX, de 2013, escrita e ambientada nos Países Baixos, para o público americano. Lançado nos EUA em 2016, o livro acaba de chegar ao Brasil pela editora DarkSide, que trouxe o autor para eventos de imprensa e com os fãs.

“Depois de publicar, tive uma reação muito boa de leitores na Holanda e quis fazer isso no resto do mundo”, explica Thomas Olde Hevelt ao Estado. “Para assustar bem o seu leitor, você precisa criar um senso de familiarid­ade para deixá-lo confortáve­l.” Se ele levou quatro meses para escrever o livro, para reescrever, junto com sua editora, levou um ano.

O livro foi adaptado para os EUA por ser o primeiro mercado internacio­nal, incluindo o Reino Unido. Os nomes, a cidade central e os aspectos culturais foram modificado­s, mas a história central continuou a mesma: um pacato município está amaldiçoad­o por uma bruxa há mais de 300 anos, quando ela foi perseguida e torturada na Inquisição. Nos dias atuais, com os olhos e a boca costurados, e correntes amarradas aos membros, ela vaga pela cidade e os moradores da região utilizam um aplicativo para a seguir e evitar que novas pessoas entrem mortalment­e em contato com ela.

Mesmo com a adaptação para os EUA, o livro continuou bem holandês, já que a nova cidade é uma ex-colônia do país no Estado de Nova York. “Também deixei nos personagen­s o jeito prático e natural que os holandeses lidam com o sobrenatur­al”, ele esclarece. “Não temos muitas superstiçõ­es e crenças, quis deixar essa vibe. Eles estão acostumado­s com essa mulher aterroriza­nte, e não têm medo.” Para o resto do mundo, incluindo o Brasil, onde o livro já é o mais vendido de terror na Amazon, ele acredita que “o medo é o que conecta as pessoas”.

Em histórias cinematogr­áficas de terror, a tecnologia vigente é constantem­ente utilizada como recurso, como na fita VHS de O Grito. Agora, na obra do jovem Heuvelt, de 35 anos, são os apps e as câmeras GoPro que dominam. “Pensei de uma forma prática. Imagine uma cidade amaldiçoad­a hoje em dia, as crianças, com certeza, iriam querer gravar vídeos dessa bruxa para colocar no YouTube.” No livro, que é contado sob o ponto de vista de alguns moradores da cidade, o jovem Tyler Grant tem algumas discussões com o pai, Steven, sobre o que ele pode ou não mostrar dos eventos sobrenatur­ais em seu canal de vídeos.

Desde jovem, Thomas Olde Heuvelt é apaixonado por histórias de terror. Não por acaso, HEX tem várias referência­s ao gênero, como As Bruxas de Blair. O holandês tem ainda como mestre Stephen King, que não só leu como elogiou sua obra no Twitter. Para ele, HEX é “totalmente brilhante e original”. “Foi bizarro! Minha editora no Reino Unido mandou o livro para ele, mas me disse para não ter esperança, porque ele só tuíta sobre coisas que ele realmente gosta”, explica Heuvelt, aos risos, tentando disfarçar o orgulho. “Eu sabia que era no estilo dele, mas não dava para saber se ele iria gostar.”

Assim como inúmeras obras do ídolo, HEX também vai ganhar uma adaptação audiovisua­l, e justamente pelas mãos de Gary Dauberman, roteirista do sucesso It: A Coisa, de King, no ano passado. A encomenda é da Warner, que vai produzir uma série de 10 episódios baseada no livro. Heuvelt não vê a adaptação com surpresa. “O jeito que eu escrevo é muito visual, principalm­ente em relação à bruxa. Você vê a coisa criando vida em frente aos seus olhos.”

O autor holandês trabalha dando consultori­a para a série, que deve ser filmada nos próximos meses, com direito a uma pontinha de Heuvelt, no maior estilo Stan Lee. Segundo ele, toda a história do livro deve ser adaptada para a primeira temporada da série e, se houver uma segunda, será inteiramen­te por conta dos roteirista­s. Para Heuvelt, a história é totalmente encerrada no livro, sem espaço para uma continuaçã­o. “Acredito que eu ainda estaria envolvido numa eventual segunda temporada, mas tudo bem continuar com eles, é uma interpreta­ção da história e é algo bonito”, diz ele, que afirma não ter ciúmes dos seus personagen­s.

Imagine uma cidade amaldiçoad­a hoje em dia, as crianças, com certeza, iriam querer gravar vídeos dessa bruxa para colocar no YouTube”

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VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Thomas Olde Heuvelt. De passagem por SP, o autor holandês falou sobre a adaptação do livro para os EUA
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HEX Autor: Thomas Olde Heuvelt Trad.: Fábio Fernandes Editora: DarkSide (369 págs., R$ 59,90)

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