O Estado de S. Paulo

Os criativos do Maní

- Patrícia Ferraz

O cardápio do Maní não é mais o mesmo. Não adianta reclamar porque não tem mais o rosbife em crosta de lapsang souchon, a feijoada esférica, a bochecha de porco com tutano. Helena Rizzo achou que era hora de mudar. E investiu na transforma­ção. Ela não trocou apenas 20% do cardápio à la carte, eliminado alguns ícones. Mudou também a maneira de criar os pratos, a partir da saída de seu exsócio e ex-marido, Daniel Redondo, com quem dividia a cozinha e a criação.

Primeiro, contratou um casal cheio de talento e criativida­de. O belga Willem Vanderven e a gaúcha Carol Albuquerqu­e entraram na cozinha do Maní há um ano (eles se conheceram na cozinha de Michel Bras, na França, trabalhara­m juntos no L’Anex, na Bélgica, tiveram catering em Porto Alegre, passaram pelo Clos de Tapas em São Paulo). A ideia inicial era deixá-los apenas inventando coisas. Não deu. Acabaram absorvidos pelo trabalho do dia a dia na cozinha. Will faz o menu-degustação e chefia a cozinha à noite, além de participar das criações. Carol começa o dia supervisio­nando o trabalho da equipe no mis-enplace (a preparação inicial) e, quando o restaurant­e abre, divide com Carla Dias o despacho de pratos. Helena chega para o serviço do almoço e o de algumas noites também.

Pre-preparação. A cozinha do Maní é pequena. Só comporta o movimento porque as bases, caldos, molhos, guarnições e a cocção de proteínas sous-vide para os dois restaurant­es e o bufê são feitos numa cozinha de produção em outro endereço. É dali que saem, de caminhãozi­nho refrigerad­o, 5 mil litros por semana de caldos (de vitela, suíno, frango, camarão, lula, lagostim e cordeiro), além de 1.200 placas de polvilho por dia, servidas no couvert. Quem coordena as coisas é Vinicius Nagao, que mantém um pé na cozinha de produção e outro na do restaurant­e.

Os criativos. Com a dupla Will e Carol absorta no dia a dia, Helena Rizzo teve a ideia de envolver a equipe de cozinheiro­s na criação. “Percebi que era muito centraliza­dora”, diz. Passaram a fazer reuniões semanais de criação e os resultados estão deixando todo mundo feliz. Quem chega no Maní na tarde de quarta-feira vê uma mesa do terraço tomada por cozinheiro­s – exatamente nove, além da dona da casa. Eles se reúnem toda semana para discutir pratos, receitas. Começam a conversa e as ideias vão surgindo, com direito a palpites de todos e palavra final da chef. “Dá orgulho”, diz Tiago Galvão, que planeja estagiar no Celler de Can Roca. “A gente tem liberdade”, diz Rodrigo Rissardo, de 28 anos, para quem a chef conseguiu estágio no Mugaritz, no País Basco espanhol.

As sugestões que vingam são testadas na segunda-feira quando o restaurant­e está fechado e Carol e Will tiram o dia para criar, às vezes com a ajuda de outros chefs. No momento, trabalham no novo menu-degustação. Numa dessas segundas-feiras, enquanto Helena testava um shot de uvas, ideia da confeiteir­a Brenda Freitas na reunião de quarta-feira, Will improvisav­a um defumador; Carol preparava a causa de batata-doce. Carla Dias salgava os peixes. “No menu-degustação a gente quer surpreende­r, mas tudo tem de ser bom, a gente tem que trabalhar os sabores com técnica”, diz Willem com sotaque.

 ?? FOTOS: THIAGO QUEIROZ/ESTADÃO ?? O trio do Maní. A chef Helena Rizzo entre o casal de chefs, o belga Willem Vanderven e a gaúcha Carol Albuquerqu­e Preparo.
A cozinheira Carla Dias salga os peixes Testes. Peixes defumados em carvão, serragem e lenha Carne. Peça é alvo de um dos muitos...
FOTOS: THIAGO QUEIROZ/ESTADÃO O trio do Maní. A chef Helena Rizzo entre o casal de chefs, o belga Willem Vanderven e a gaúcha Carol Albuquerqu­e Preparo. A cozinheira Carla Dias salga os peixes Testes. Peixes defumados em carvão, serragem e lenha Carne. Peça é alvo de um dos muitos...

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