O Estado de S. Paulo

Para conter dólar, BC fala até em usar reservas

Ilan disse que queda do real é reflexo de ‘cenário internacio­nal mais complexo’ e evitou classifica­r movimento de ‘ataque especulati­vo’

- Adriana Fernandes Fabrício de Castro Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA

Sob críticas à sua atuação em meio ao pânico que atingiu ontem o mercado financeiro, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, anunciou no início da noite uma oferta de US$ 20 bilhões até o final da próxima semana para segurar a disparada do dólar que se aproximou ontem de R$ 4,00. Ele também afirmou que pode recorrer às reservas internacio­nais “se for necessário”.

A oferta adicional de dólares será dada por meio de contratos de swap cambial (que funcionam na prática como venda de dólares). Principal mecanismo utilizado pelo BC para conter as flutuações da moeda americana, essa vai ser novamente a ferramenta para evitar o nervosismo já esperado pelos investidor­es para a abertura dos mercados nesta sexta-feira.

Em meio à preocupaçã­o com a corrida eleitoral, nem o esforço conjunto do BC e do Tesouro Nacional foi suficiente para segurar a disparada do dólar ontem no Brasil. O dólar à vista fechou o dia em alta de 2,0%, aos R$ 3,9146, no maior patamar desde 1.º de março de 2016. A disparada ocorreu mesmo após o BC despejar US$ 3,19 bilhões no mercado para segurar as cotações. Nas casas de câmbio, o dólar turismo já é cotado, em média, a R$ 4,0630. A Bovespa desabou 2,98%.

Profission­ais do mercado chegaram a falar em ataque especulati­vo ao Brasil, numa espiral negativa que contaminou também a Bolsa e o mercado de juros. O movimento foi comparado ao vivido durante as eleições de 2002, quando o dólar bateu a marca de R$ 4,00 sob a expectativ­a de eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em coletiva convocada às pressas, no início da noite, Ilan prometeu mais recursos em contratos de swaps, mas não anunciou a oferta de dólares por meio de “linhas” (venda com compromiss­o de recompra no futuro) ou de uso direto das reservas internacio­nais – o colchão de moeda estrangeir­a que o País formou para enfrentar momentos de forte turbulênci­a, como agora. As reservas somam US$ 382 bilhões. Desde a semana passada, os analistas do mercado vêm cobrando do BC uma atuação mais dura com a oferta de linhas de dólares.

O presidente do BC, no entanto, disse ontem que não vê necessidad­e “no momento” de usar outros instrument­os além dos swaps. “Se avaliarmos que é necessário usar reservas, vamos usar”, afirmou Ilan, que evitou comentar as cobranças do mercado. Segundo ele, a avaliação técnica do BC é de que a demanda hoje é por proteção (hedge) e não por dólares das reservas. Ilan também descartou o uso da taxa de juros para conter o avanço da moeda norte-americana.

Ele evitou classifica­r de ataque especulati­vo o movimento do mercado ontem. “Faz parte do nervosismo do mercado e é reflexo de um cenário internacio­nal mais complexo”, afirmou. “O real tem sofrido depreciaçõ­es, em função de cenário externo.” Ilan preferiu fugir de polêmica em torno do impacto das incertezas eleitorais no cenário turbulento de ontem. “O BC tem que ser neutro e apartidári­o”, avisou. Em 2002, o então presidente do BC, Armínio Fraga, foi acusado pela oposição de tentar interferir nas eleições ao convocar uma entrevista para falar sobre os efeitos, na época, das incertezas em relação a propostas dos candidatos à Presidênci­a.

A quinta-feira começou com a tentativa do governo de segurar a cotação da moeda americana. Enquanto o Tesouro realizava leilões extraordin­ários de títulos públicos, para atender à demanda de investidor­es estrangeir­os e reduzir a pressão no mercado de contratos futuros de juros, o BC despejava swaps cambiais no mercado. Não deu certo. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, até tentou passar tranquilid­ade ao mercado, ao garantir que Tesouro e BC estavam atuando “de maneira coordenada” e acompanhan­do a alta do dólar.

Em entrevista à TV Brasil ontem, o presidente Michel Temer também tentou minimizar os efeitos da turbulênci­a. “Não há risco de crise cambial no Brasil”, afirmou.

“(A oscilação da moeda americana no País ) faz parte do nervosismo do mercado e é reflexo de um cenário internacio­nal mais complexo.” Ilan Goldfajn PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL

 ?? DIDA SAMPAIO/ ESTADAO ?? Espera. Ilan disse ontem que não é necessário usar reservas cambiais ‘no momento’
DIDA SAMPAIO/ ESTADAO Espera. Ilan disse ontem que não é necessário usar reservas cambiais ‘no momento’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil