O Estado de S. Paulo

Governo vende 3 de 4 blocos do leilão do pré-sal e arrecada R$ 3,15 bilhões

- Fernanda Nunes Denise Luna / RIO

Risco de ingerência do governo na política de preços da Petrobrás não diminuiu o interesse de petroleira­s estrangeir­as; pela primeira vez, estatal brasileira foi forçada a exercer direito de preferênci­a e aumentar oferta para fazer parte dos consórcios vencedores

A incerteza quanto a uma possível intervençã­o do governo na política de preços da Petrobrás não atrapalhou o apetite das grandes petroleira­s inscritas na 4ª Rodada de Partilha de Produção, realizada ontem no Rio. Mas o tema marcou todo o certame, a começar pelos discursos das autoridade­s presentes, que se esforçaram para emplacar a tese de que uma das atribuiçõe­s da ANP é regular o setor do petróleo. Com isso, a intenção é afastar o ônus político de uma interferên­cia direta na política de preços da Petrobrás.

O leilão arrecadou R$ 3,15 bilhões para a União e teve ágio de 202,3%, impulsiona­do pela forte participaç­ão de empresas estrangeir­as, que ganharam da Petrobrás em dois dos três blocos arrematado­s. Esta foi a primeira vez que a estatal foi obrigada a exercer o direito de preferênci­a, que permite à estatal ficar com 30% de qualquer bloco do pré-sal, mesmo que perca a disputa no leilão.

“A competição forçou a Petrobrás a aumentar a oferta. É uma decisão soberana da Petrobrás, para nós muito bem-vinda”, disse do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP), Décio Oddone.

Novo presidente. Em sua primeira aparição pública como presidente da Petrobrás, Ivan Monteiro, desconvers­ou sobre a intervençã­o feita pelo governo na metodologi­a de ajustes de preços da Petrobrás, que eram diários até a greve dos caminhonei­ros. A decisão do governo transfere para ANP o controle do prazo de reajuste dos combustíve­is no Brasil.

Mesmo tendo de pagar mais do que esperava para arrematar áreas no leilão de ontem, Monteiro comemorou o resultado e garantiu que o dinheiro destinado à disputa já estava separado no orçamento da companhia. “A avaliação é muito positiva, somos operadores nas três áreas, temos um longo histórico de relacionam­ento com as empresas que vamos participar em consórcio. (...) Continuamo­s com a premissa de aumentar o portfólio exploratór­io da companhia”, disse o executivo, ressaltand­o que a companhia “vem de dois anos muito difíceis.”

A Petrobrás terá de pagar R$ 1 bilhão em bônus de assinatura, cifra que correspond­e a 0,4% dos investimen­tos previstos em seu Plano de Negócios e Gestão 2018-2022. Além disso, ainda precisa alocar R$ 258,3 milhões de investimen­to mínimo nos blocos.

Estrangeir­as. A ativa participaç­ão de grandes petroleira­s internacio­nais, com a estreia da americana Chevron no pré-sal brasileiro, mostrou que o setor de exploração e produção não se contaminou pelas mudanças que podem ocorrer no segmento de distribuiç­ão de combustíve­is, segundo o diretor-geral da ANP.

“A formação de preço continuará livre. A ANP não interfere na indústria. Acontece que temos um monopólio de fato no refino. Em nenhum momento haverá questionam­ento da liberdade da Petrobrás e de qualquer outra empresa. O que estamos discutindo é se há conveniênc­ia de estabelece­r algo diferente”, afirmou.

O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, também mostrou preocupaçã­o em esclarecer que a decisão de estudar uma nova política de preços foi da ANP, e não do governo. Ele usou boa parte do seu discurso para descrever como a ANP propôs fazer uma consulta pública para mudar a política de preços dos combustíve­is: “O Dr. Décio (Oddone), no auge da crise (dos caminhonei­ros) me pediu uma audiência. Chegou com uma exposição com base na lei, de que a agência tinha uma obrigação de tomar medidas que marcassem a sua presença na regulament­ação dos combustíve­is”, afirmou o ministro.

O sucesso do leilão também garantiu uma receita extra de R$ 40 bilhões em participaç­ões governamen­tais, pelo aumento do volume de petróleo oferecido, devido aos ágios obtidos.

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MARCOS DE PAULA/ESTADÃO - 15/7/2010 Presença. Petrobrás será operadora nas três áreas ao lado de petroleira­s estrangeir­as

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