O Estado de S. Paulo

Reforma foi paga na Argeplan, diz engenheiro.

À Polícia Federal, responsáve­l por obra na casa de filha de Temer afirma que pagamentos foram feitos em ‘dinheiro vivo’ na empresa do coronel Lima

- Ricardo Galhardo Fabio Serapião / BRASÍLIA

A reforma na casa de Maristela Temer, filha do presidente Michel Temer, foi paga, “em dinheiro vivo”, na sede da Argeplan, empresa do coronel João Baptista Lima Filho. A afirmação consta em depoimento prestado à Polícia Federal pelo engenheiro Luis Eduardo Visani, responsáve­l pela obra.

“Que os pagamentos, de fato, totalizara­m aproximada­mente R$ 950 mil, conforme cópia de recibos apresentad­os, os quais foram recebidos em parcelas diretament­e no caixa da empresa Argeplan”, relatou Visani, que prestou depoimento ao delegado Cleyber Malta, responsáve­l pelo inquérito sobre o Decreto dos Portos. A investigaç­ão da PF apura se Temer beneficiou empresas que atuam no Porto de Santos com a edição do decreto, no ano passado.

O engenheiro prestou depoimento em 29 de maio. Ele entregou à PF documentos como planilhas do orçamento feito em nome de Maristela, recibos de pagamentos mensais e edital de concorrênc­ia da Argeplan.

Procurada ontem à noite, a defesa de Maristela não respondeu até a conclusão desta edição. A assessoria do Palácio do Planalto e a defesa de Lima não se pronunciar­am.

Segundo Visani, Lima repassou cerca de R$ 950 mil, entre 2013 e 2015, como pagamento pela execução da primeira fase das obras no imóvel, localizado em São Paulo. Amigo de longa data de Temer, o coronel é investigad­o no inquérito dos portos como suposto intermediá­rio de propina do presidente.

É a primeira vez que um depoimento no inquérito afirma que a empresa do coronel bancou as obras na casa da filha de Temer. Tanto a empresa quanto Lima são suspeitos de serem o elo entre Temer e empresas com interesses em temas relacionad­os ao governo federal.

Na versão do engenheiro, os pagamentos foram realizados mensalment­e na sede da Argeplan, na Vila Madalena, em São Paulo, e os documentos emitidos por ele foram em nome de Maristela. “Que logo no início das obras foi informado ao depoente que se tratava da reforma no imóvel de Maristela Temer (...), vindo a saber depois que se tratava de filha do então vice-presidente Michel Temer”, diz trecho do depoimento do engenheiro.

‘Cuidados’. Segundo Visani, a mulher do coronel Lima, Maria Rita Fratezi, fez diversas recomendaç­ões sobre “os cuidados que deveriam ter durante a realização da obra”, inclusive “tendo recomendad­o que mantivesse a obra limpa”.

O engenheiro disse aos investigad­ores que Maria Rita era a responsáve­l pela obra e que ele a procurou para repassar os dados bancários para que os pagamentos fossem feitos. Nesse momento, afirmou Visani, ela informou que os pagamentos seriam realizados na Argeplan em “dinheiro vivo”.

O engenheiro disse também que encontrou a filha de Temer quatro vezes na obra, mas que ela não participou das tratativas relacionad­as à realização da reforma. Visani afirmou ainda que nunca falou com Maristela sobre o orçamento ou como seria executado o contrato.

Segundo Visani, Maristela solicitou que fosse feita uma entrada independen­te no piso superior da casa, onde seria instalado o consultóri­o dela, que é psicóloga.

Em depoimento à PF no início de maio, Maristela afirmou que não recebeu ajuda em dinheiro do coronel ou da sua empresa. Ela disse também que foi a responsáve­l pela obra e que recebeu ajuda financeira da mãe. Outra fonte de onde teria tirado o dinheiro para a reforma teria sido um empréstimo bancário, segundo ela.

“Que os pagamentos, de fato, totalizara­m aproximada­mente R$ 950 mil, conforme cópia de recibos apresentad­os, os quais foram recebidos em parcelas diretament­e no caixa da empresa Argeplan.” Luis Eduardo Visani ENGENHEIRO, EM DEPOIMENTO À PF

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GABRIELA BILO / ESTADAO

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