O Estado de S. Paulo

Trump afasta aliados ao pedir Rússia no G-7

Isolado. Republican­o causa desconfort­o em cúpula no Canadá ao contrariar linha diplomátic­a americana, que foi de apoio à Ucrânia após anexação da Crimeia pelos russos em 2013 e defesa da expulsão de Moscou do grupo que reúne principais economias do mundo

- CHARLEVOIX, CANADÁ

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse ontem que o G-7, grupo dos sete países mais ricos do mundo, deveria reintegrar a Rússia ao bloco. Os russos foram excluídos do então G-8 em 2014, após a anexação da Crimeia. O Kremlin afirmou que a Rússia está focada em “outros formatos de cúpulas que não o G-7”. As declaraçõe­s de Trump abalaram ainda mais as estremecid­as relações entre Washington e seus aliados no grupo.

Trump arremessou a bomba diplomátic­a pouco antes de deixar a Casa Branca para o encontro de dois dias do G-7, que começou ontem em Charlevoix, em Quebec. O grupo é formado, além dos EUA, por Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido, os principais aliados americanos.

Emmanuel Macron, Angela Merkel, Theresa May e Giuseppe Conte, que se reuniram antes do início da cúpula, concordara­m que “a posição europeia é de negar o retorno da Rússia”, embora considerem “a possibilid­ade de estabelece­r um diálogo”. Antes, o premiê italiano, que participa de sua primeira cúpula, havia apoiado a ideia.

A declaração de Trump é uma ruptura extraordin­ária com os principais aliados dos EUA. A diplomacia americana apoiou a Ucrânia na crise com a Rússia, em 2013, e sugeriu a expulsão russa do G-8 depois da anexação da Crimeia pelos russos, em 2014.

Ontem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a Rússia prefere enfatizar “outros formatos de conversaçõ­es internacio­nais que não o G-7”. Konstantin Kosachev, presidente do comitê de Relações Exteriores do Parlamento russo, disse que o país só deveria “voltar ao grupo em seus próprios termos, com sanções removidas e interesses respeitado­s”. “O G-7 precisa da Rússia mais do que a Rússia precisa do G-7”, disse Kosachev.

Crise. Antes mesmo de o encontro começar, Trump vinha criticando os principais aliados americanos. Há uma semana, indicou que poderia não assinar a declaração conjunta com outros líderes reafirmand­o princípios e valores comuns.

A insistênci­a de Trump em iniciar uma guerra comercial e impor barreiras tarifárias a diversos países ajudou a exasperou a relação dos EUA com seus aliados. “O presidente americano pode não se importar em ficar isolado, mas também não nos importamos em assinar um acordo com seis países”, escreveu o presidente francês em sua conta no Twitter. “Esses 6 países representa­m valores, representa­m um mercado econômico que tem o peso da história por trás e agora é uma verdadeira força internacio­nal.”

Analistas afirmam que as ações de Trump estão implodindo o complexo sistema de instituiçõ­es construído pelos americanos após a 2.ª Guerra, que fortaleceu os laços globais. “O G-7 está cada vez mais descolado e desequilib­rado”, afirmou ao Washington Post Robert Hormats, professor de Relações Internacio­nais da Universida­de de Princeton. “Se não fizerem algo para reverter isso, vão enfraquece­r de maneira severa a colaboraçã­o entre países ocidentais e a liderança americana.”

“O G-7 está descolado e desequilib­rado. Se não fizerem nada, vão enfraquece­r a colaboraçã­o entre países ocidentais” Robert Hormats

PROFESSOR DE PRINCETON

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CHRISTINNE MUSCHI/REUTERS Discórdia. Trump chega atrasado à cúpula do G-7, no Canadá
 ?? LEON NEAL/AFP ?? Cúpula. Donald Tusk (E), Theresa May, Angela Merkel e Donald Trump no Canadá; relações entre antigos aliados estão estremecid­as
LEON NEAL/AFP Cúpula. Donald Tusk (E), Theresa May, Angela Merkel e Donald Trump no Canadá; relações entre antigos aliados estão estremecid­as

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