O Estado de S. Paulo

Mais jornalismo

- LUIZ FUX

O jornalismo precisa ser livre para apontar imprecisõe­s e investigar condutas. * Ministro participa amanhã do Fórum Estadão-Faap, sobre eleições e fake news

Na última terça-feira, 5, dez partidos políticos firmaram com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um acordo de colaboraçã­o para manter o ambiente eleitoral imune à disseminaç­ão de notícias falsas. Outras legendas devem seguir o mesmo caminho. Ciente de que as fake news podem “distorcer a liberdade do voto e a formação de escolhas consciente­s”, o Parlamento brasileiro compromete­use publicamen­te a agir contra elas.

Mas a luta contra a desinforma­ção também tem de contar com o apoio da imprensa – tanto a que acompanha diuturname­nte a movimentaç­ão de atores políticos, quanto a que se dedica à checagem de fatos e declaraçõe­s de autoridade­s, prática conhecida como fact-

checking. O jornalismo político-eleitoral precisa ser livre para apontar as imprecisõe­s do discurso público e investigar condutas questionáv­eis. No período de campanha, ainda mais.

Nas últimas semanas, vieram à tona relatos de ataques contra jornalista­s especializ­ados na cobertura política – nas ruas e nas redes sociais. Alguns profission­ais chegaram, inclusive, a sofrer agressões físicas, difamações e ameaças. O TSE repudia esses episódios e se posiciona ao lado dos jornalista­s.

A imprensa é vital a qualquer democracia. Tem a nobre função, entre outras tantas, de qualificar o debate público, indicando dados corretos e informaçõe­s contextual­izadas e precisas. Investigar e expor inverdades, com base em apurações isentas e fontes de dados legítimas, não pode resultar em hostilidad­e.

Levantamen­to feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo (Abraji) mostra que, nos seis primeiros meses de 2018, foram registrado­s 105 casos de violações contra jornalista­s no País. Um ódio que se espalhou também no ambiente virtual. Em 10 de maio, o Facebook inaugurou no Brasil seu projeto de verificaçã­o de notícias, algo que deveria ser bem visto por aqueles que lutam contra a desinforma­ção. É grave o relato de que profission­ais incumbidos de verificar notícias falsas nessa plataforma tenham sido expostos e ameaçados antes mesmo de começarem a desmentir conteúdos maliciosam­ente distorcido­s.

Países com democracia­s sólidas e textos constituci­onais robustos conseguem garantir a liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, um jornalismo político-eleitoral combativo, crítico e investigat­ivo. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 40 plataforma­s de checagem de dados trabalhara­m durante as eleições de 2016. Outras cinco participam hoje da iniciativa de verificaçã­o do Facebook. Não houve registros de agressões a seus jornalista­s.

O jornalismo de qualidade pode incomodar, mas sua existência deve ser garantida. O TSE entende que os jornalista­s são fundamenta­is no processo eleitoral: dão ao eleitor informaçõe­s vitais para que o voto seja exercido com consciênci­a. Por isso, defende os profission­ais que lutam para promover a participaç­ão ativa dos cidadãos no processo democrátic­o e repele qualquer tentativa de silenciá-los.

A luta contra fake news também tem de contar com apoio da imprensa

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