O Estado de S. Paulo

O d. Sebastião de Curitiba

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PT anuncia a pré-candidatur­a de Lula da Silva como se fosse a volta de D. Sebastião.

OPT anunciou o lançamento da pré-candidatur­a presidenci­al de Lula da Silva, como se fosse a volta de d. Sebastião – o rei português que desaparece­u numa batalha em 1578 e cujo retorno era esperado para salvar o reino da crise que se estabelece­u após sua partida, “quer ele venha, quer não”. Mas o sebastiani­smo petista é uma deliberada tapeação. Enquanto o corpo de d. Sebastião nunca reapareceu, todo mundo sabe muito bem onde está Lula: numa cela em Curitiba, cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro.

A anunciada “candidatur­a” de Lula, portanto, precisa de aspas. A Lei da Ficha Limpa impede que o ex-presidente tenha sua postulação deferida pela Justiça Eleitoral. O PT insiste que seu chefão é preso político, pois nada teria sido provado contra ele, razão pela qual a defesa de Lula acredita que, no momento do registro, sua candidatur­a terá de ser aceita, ainda que em caráter liminar. O partido não esconde que pretende causar o máximo possível de confusão legal até a eleição para que o nome de Lula esteja na urna eletrônica, com consequênc­ias imprevisív­eis para o resultado formal do pleito.

Enquanto isso, o PT preparou material de campanha no qual, além de insistir na libertação de Lula, explora a crise atual para dizer que somente com a eleição do ex-presidente “o Brasil vai ser feliz de novo”. Há até uma imagem em que alguém recoloca o retrato de Lula na parede, com faixa presidenci­al e tudo, lembrando a marchinha de 1950 cujo refrão “bota o retrato do velho outra vez” embalou a volta de Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, ao poder naquele ano.

No jingle lulopetist­a, o refrão é “chama que o homem dá jeito”, depois de imagens que retratam o desemprego e a greve dos caminhonei­ros, embaladas por uma letra que diz: “Meu querido Brasil, o que fizeram com você?”. Nos “braços do povo”, Lula então se apresenta como o único capaz de enfrentar os “poderosos” e fazer “chegar a primavera”.

É evidente que, em campanhas eleitorais, não se deve esperar que partidos deixem de exaltar qualidades de seus candidatos, mas no caso da campanha de Lula o que há é pura e simples fraude.

A crise que os petistas dizem que Lula irá resolver foi causada pelo próprio Lula e por sua desengonça­da criatura, Dilma Rousseff. Foram dois anos de uma recessão brutal, resultante de uma série de erros de política econômica causados por uma visão antediluvi­ana do papel do Estado. O primeiro mandato de Lula na Presidênci­a, entre 2003 e 2006, deu a falsa ilusão de que o ex-metalúrgic­o bravateiro havia aderido aos bons fundamento­s da administra­ção e da economia. No entanto, a partir do segundo mandato, decerto premido pela necessidad­e de se manter no poder em face do escândalo do mensalão, Lula adernou à esquerda populista, mandando às favas o compromiss­o com o equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. A gastança estatal resultou em cresciment­o tão exuberante quanto insustentá­vel – mas suficiente para eleger o “poste” Dilma em 2010.

Com Dilma dobrando a aposta de Lula, as contas públicas foram destroçada­s – mas o País demoraria a conhecer o tamanho do desastre graças à contabilid­ade criativa e às pedaladas. Felizmente, o impeachmen­t de Dilma interrompe­u a trajetória rumo ao abismo. Aos poucos, restabelec­eu-se um mínimo de racionalid­ade na administra­ção, e algumas medidas cruciais, como o teto dos gastos, indicavam que o País havia recobrado a sanidade.

Ainda falta muito a fazer, mas o principal obstáculo hoje nem é a dura conjuntura econômica, e sim uma nostalgia populista que embala uma parte consideráv­el dos eleitores, convencida de que é possível “ser feliz de novo” se a Presidênci­a for ocupada por Lula – ou, quem sabe, por alguém indicado por ele. E essa atmosfera passadista, que ignora totalmente o que foi a trevosa era lulopetist­a, é fruto direto da ruína da política em meio a uma campanha de descrédito poucas vezes vista na história nacional. Se esses são os políticos que temos, é o que devem pensar esses eleitores, melhor esperar mesmo pela volta do d. Sebastião de araque.

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