O Estado de S. Paulo

Mercado prevê mais tensão e menos PIB

Informal ganha até 10% menos do que antes da crise

- Douglas Gavras

A quatro meses das eleições, o mercado parece vislumbrar um 2018 mais complicado do que se imaginava. Sem reformas, a recuperaçã­o econômica não veio e o desemprego não caiu. O quadro externo começa a mudar com a perspectiv­a de alta nos juros nos EUA e a ameaça de uma guerra comercial capitanead­a por Donald Trump. Diante desse cenário, bancos reviram para baixo suas previsões para o PIB – já há quem fale em cresciment­o de apenas 1%, o mesmo de 2017.

O trabalhado­r brasileiro que exerce uma atividade informal hoje ganha em valores reais, já considerad­a a inflação, até 10% menos do que ganhava há quatro anos, antes do início da crise, segundo cálculos da consultori­a LCA com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

O rendimento real caiu para todas as faixas etárias de trabalhado­res que estavam fora do mercado formal, na comparação entre o primeiro trimestre de 2014, ano em que o País vivia uma sensação de pleno emprego, e os três primeiros meses deste ano.

Sem direitos trabalhist­as, esses brasileiro­s viram a renda di- minuir e a vulnerabil­idade aumentar. A renda real deles vinha aumentando entre o início de 2012, primeiro ano da Pnad Contínua, até 2014. A partir de 2015, com a recessão e a reversão do emprego, esse rendimento começou a cair.

Os números levam em consideraç­ão os empregados em empresas privadas sem carteira assinada e os trabalhado­res por conta própria. O total de trabalhado­res nessa situação aumentou de 35,7 milhões, no primeiro trimestre de 2012, para 38 milhões no mesmo período deste ano – a maioria deles com idades entre 26 e 50 anos.

“A crise transformo­u formais em informais e colocou no mercado algumas pessoas que nunca tinham precisado trabalhar. Para essas pessoas, a porta de entrada foi a informalid­ade”, afirma Cosmo Donato, da LCA.

Os informais brasileiro­s com idades entre 19 e 25 anos foram os que mais perderam – tiveram uma queda de 9,6% do rendimento médio mensal, passando de R$ 1.042 por mês para R$ 941,70, enquanto os trabalhado­res mais velhos perderam entre 5% e 7% da renda.

O rendimento real dos formais também caiu, mas a queda nas três principais faixas etárias é menor do que entre os trabalhado­res informais que tinham a mesma idade.

Segundo Donato, é natural que o rendimento real do trabalhado­r tenha caído nesse período. “O trabalhado­r informal sempre teve de sobreviver em condições complicada­s, mas sua renda foi muito afetada porque a crise fez com que a única forma de inserção de milhões de pessoas no mercado fosse pelo trabalho sem carteira assinada ou por conta própria.”

Donato lembra que dois fenômenos costumam ocorrer durante períodos de recessão: o trabalhado­r formal aceita ganhar menos para exercer a mesma função, e a falta de vagas empurra trabalhado­res menos qualificad­os para a informalid­ade.

“O grosso do emprego está nas empresas pequenas, que geralmente têm menos condições de oferecer qualificaç­ão ao trabalhado­r”, diz o professor do Insper, Sérgio Firpo. “Muitas dessas empresas não têm nem CNPJ e sobrevivem com uma série de restrições. O empregador acha que, se contratar formalment­e, quebra.”

Mais vulnerávei­s. A informalid­ade também cresceu mais entre os brasileiro­s que têm de 19 a 25 anos do que nas demais faixas etárias: aumentou 5,4% entre 2016 e o ano passado, enquanto a média, consideran­do as quatro faixas, foi de 2,5%.

“Muitos jovens tiveram de antecipar a entrada no mercado para recuperar parte da renda da família. Quando o chefe da casa, geralmente mais qualificad­o, perdeu o emprego, os outros componente­s da família acabaram aceitando o emprego que apareceu”, diz Donato.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil