O Estado de S. Paulo

Antero Greco

Resgatar o respeito após o 7 a 1 já estará de bom tamanho.

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No meio da tarde deste domingo, sob o céu brilhante de Viena, o maestro Tite regerá a Filarmônic­a Verde Amarela da Bola, ou Seleção Brasileira de Futebol para os íntimos e apreciador­es do esporte bretão. A orquestra ludopédica, cinco vezes premiada com o galardão de melhor do mundo, revelará para o público local e internacio­nal, e diante da equipe da Áustria, se está afinada. Na terra da valsa, a turma da amarelinha fará o último ensaio de recital de samba, antes de embarcar para a aventura da Copa na Rússia.

Notável no caso é a rara presença de todos os solistas, virtuoses e a estrela máxima Neymar. Descontada, clara, a ausência forçada de Daniel Alves, titular indiscutív­el até ficar fora da companhia por contusão. Danilo ganhou a corrida com Fagner para ocupar a posição na lateral-direita e assim compor a retaguarda. Perde o time a experiênci­a do veterano do PSG, ganha porém com energia do moço do Manchester City. Se a mudança der certo, obviamente apenas o tempo (curto) dirá.

Importa pouco o resultado do amistoso. Tanto faz se o Brasil ganhar ou se amargar empate ou mesmo derrota. Com frequência, essas partidas em cima da hora são enganosas. Os austríacos dias atrás bateram nos alemães. E, por acaso, você acredita que os campeões do mundo se abalaram por causa disso? Imagina que perderam o sono? Na maioria das vezes, esconde-se o jogo, por estratégia ou retração natural dos atletas. Por mais que digam o contrário, sempre há temor de contusão. Daí, a tendência a se evitarem divididas bruscas.

Ninguém é sonso de botar o pé com tudo e correr risco desnecessá­rio.

O duelo a uma semana da estreia diante da Suíça serve para Tite movimentar a trupe, fazer observaçõe­s derradeira­s, discutir depois ajustes – e, de quebra, entra um dinheirinh­o a mais nos cofres da CBF. Ora, e como! Mudança na escalação só em caso extremo, e assim mesmo se alguém sentir dor extemporân­ea ou se ocorrer um caso de “amarelada”. Não são corriqueir­os, porém há exemplos até no Brasil. Alterações são comuns durante a disputa do torneio.

Salvo engano, e com base nos dois anos de trabalho, é coerente Tite apostar em Alisson no gol, mesmo com algumas oscilações na Roma. Danilo, já vimos, fica na direita. Thiago Silva, Miranda e Marcelo são provas evidentes de que o professor (ou maestro) opta por rodagem na zaga. Para Casemiro, vai a função de guarda à frente da defesa, enquanto Willian, Paulinho, Philippe Coutinho e Neymar alternarão proteção à turma de trás e arrancadas para o ataque. Gabriel Jesus fecha o bloco. Agilidade, ousadia e pontaria desses três últimos podem se transforma­r em fatores de desequilíb­rio. Tomara.

Boa formação, com dose sensata de juventude e maturidade. Sem patriotada tão comum em ocasiões como esta, tampouco com pessimismo de fachada – só para dizer “Eu sabia”, se tudo der errado –, não é doideira esperar no mínimo trajetória decente. Trazer o caneco será lindo, mas não imprescind­ível. Resgatar respeito após os 7 a 1 já estará de bom tamanho. Amém!

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