O Estado de S. Paulo

Quem ri por último...

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS Até já: Saio duas semanas de férias. Ufa!

Se arrependim­ento matasse, talvez Michel Temer já estivesse mortinho da Silva depois de deixar sua eterna zona de conforto, articular meticulosa­mente o impeachmen­t de Dilma Rousseff e assumir a Presidênci­a em meio à maior crise política e econômica da história. Temer virou o principal alvo do País, Dilma vive (quase) em paz.

Ela caiu ao perder as condições de governabil­idade, diante da certeza de que o Brasil não suportaria mais dois anos de Dilma Rousseff. O que não se sabia é que, ao assumir, Temer viraria o maior vilão nacional. Deputado federal desde 1987, presidente da Câmara três vezes, presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República por seis anos, ele sempre tinha passado incólume por investigaç­ões e denúncias.

Durante essas décadas, conviveu tranquilam­ente com o fantasma de suspeitas e maledicênc­ias sobre suas relações com o Porto de Santos. Um fantasma que nunca se materializ­ara, até que... Bastou subir a rampa do Planalto e tudo mudou, a vida de Temer virou um inferno de denúncias, acusações, investigaç­ões. Sua biografia, que parecia condizente com um professor de Direito Constituci­onal, esfarelou. Até sua saúde sai abalada.

Não bastasse a gravação sorrateira de Joesley Batista e duas denúncias de Rodrigo Janot, Temer viu Romero Jucá despencar do Planejamen­to e Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Alves irem em fila para a prisão, com quase todos os seus assessores políticos. O que dizer de Rocha Loures e sua mala?

Agora, Temer vê a filha exposta nas tevês por depoimento­s constrange­dores sobre uma reforma na sua casa e vê os fiéis amigos José Yunes e coronel João Baptista Lima nas situações mais aflitivas, tentando explicar decretos, Porto de Santos, empresa Rodrimar, temas com os quais o brasileiro comum já está familiariz­ado.

Temer acabou sofrendo o que considera uma imensa humilhação à sua pessoa e que todo o resto considera uma imensa humilhação à instituiçã­o Presidênci­a da República. Onde já se viu um presidente com sigilo bancário e fiscal quebrado a pedido da Polícia Federal e por autorizaçã­o do Supremo?

Além da J&F e do Porto de Santos, há ainda a história dos R$ 10 milhões da Odebrecht para o então PMDB, acertados no Jaburu em 2014. Apesar de as doações privadas para campanhas serem ainda legais, por pouco lá se vai também o sigilo telefônico do presidente da República.

Nos dois casos, o do Porto de Santos e o do PMDB, a PF pediu a quebra de sigilo de Temer, mas a PGR deu parecer contrário. No primeiro, Luís Roberto Barroso ficou com a PF. No segundo, Edson Fachin seguiu a PGR. Temer passou raspando, mas seus Eliseu Padilha e Moreira Franco não tiveram a mesma sorte. O mundo de Temer continuou a desmoronar quando os inegáveis ganhos na economia começaram a fazer água. A reforma da Previdênci­a não vingou. O País parou de crescer. O desemprego parou de cair. E veio a greve dos caminhonei­ros. Recuar da tabela de fretes horas depois da publicação é só uma pitada de vexame.

Pode-se dizer que a vida de Temer anda um inferno. E seu troféu é o pior índice de popularida­de de um presidente, com chance zero de reversão. Enquanto isso, Dilma transita entre Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Europa e EUA e insiste em ser candidata em Minas, atravessan­do o samba da aliança PT-MDB no Estado. Pensando bem, quem mais se deu mal com o impeachmen­t? Temer, o novo inimigo número um do País, ou Dilma, que passeia por aí trombetean­do a tese do “golpe” e ainda se dá ao desplante de dizer que “estão destruindo a Petrobrás”?

Aliás, será que os quase vinte candidatos têm mesmo certeza de que querem assumir a Presidênci­a da República?

Com o impeachmen­t, Dilma está numa boa e a vida de Temer virou um inferno

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