O Estado de S. Paulo

‘Uma faísca pode abalar a democracia’

Eugênio Bucci, jornalista e professor da ECA-USP

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Cinco anos depois das jornadas de junho de 2013, o Brasil se vê diante de uma encruzilha­da, a poucos meses das eleições de outubro: optar por um caminho de renovação do sistema político ou abraçar um discurso moralista de rejeição “a tudo e a todos”. A opinião é do professor da Escola de Comunicaçõ­es e Artes da Universida­de de São Paulo (ECA-USP) Eugênio Bucci. A seguir, trechos da entrevista.

• Quais os principais efeitos das jornadas de junho hoje?

2013 fez explodir um grau de insatisfaç­ão generaliza­do que estava mais ou menos oculto. O que temos hoje guarda relações com isso, mas são relações indiretas. Há uma fúria, uma revolta, um ressentime­nto na sociedade brasileira.

• Ódio dirigido aos partidos?

É um ódio contra as autoridade­s, à forma de gerir. A gente tem a sensação de que tudo que está por aí é inflamável. Basta uma faísca para o abalo da normalidad­e democrátic­a. O discurso anticorrup­ção traz um risco muito grande.

• Qual?

Vem ganhando volume um discurso moralista, antidemocr­ático e antipolíti­co. Isso está muito próximo dessa solução apocalípti­ca, como é uma ditadura – ou uma intervençã­o militar – como está na moda dizer.

• O senhor vê no curto prazo mudança no sistema político?

Pode ser. Existe um cenário que pode trazer mudança: um segundo turno entre um candidato que defenda a democracia e a renovação e um outro que seja porta-voz do imaginário da ditadura. A sociedade brasileira pode se ver diante de uma escolha real e salutar. Isso pode ser bom.

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