O Estado de S. Paulo

Donald Trump pode perdoar a si próprio?

- HELIO GUROVITZ E-MAIL: HELIO.GUROVITZ@ESTADAO.COM TWITTER: @GUROVITZ

À medida que a investigaç­ão sobre as eleições de 2016 chega perto de Donald Trump, surgiram duas dúvidas insólitas: 1) um presidente em exercício pode ser processado criminalme­nte?; 2) ele pode usar o poder presidenci­al para perdoar a si próprio? Nenhuma delas tem resposta. São, nas palavras do constituci­onalista Brian Kalt, “precipício­s constituci­onais”.

A primeira questão jamais foi testada em tribunais. No caso Paula Jones, a Suprema Corte decidiu que presidente­s não são imunes a processos civis (condenado, Bill Clinton teve de indenizá-la e perdeu a licença de advogado). Mas os procurador­es sempre relutaram em denunciar criminalme­nte um presidente em exercício. No Brasil, a denúncia precisa do aval da Câmara. Lá, a Constituiç­ão é omissa sobre a imunidade. “Há bons argumentos dos dois lados”, diz Kalt.

A segunda questão foi despertada por um tuíte do próprio Trump. Parece absurdo, mas há argumentos que lhe dão razão. A Suprema Corte decidiu em 1974 que todo limite ao perdão presidenci­al “precisa ser encontrado na própria Constituiç­ão”. Ela o restringe em casos de impeachmen­t, processos civis e crimes estaduais – mas nada diz sobre o autoperdão.

Tanto Richard Nixon (Watergate) quanto George H. Bush (Irã-Contras) driblaram o problema. O primeiro foi perdoado pelo sucessor. O segundo perdoou os acusados e esvaziou a denúncia. Como agiria Trump? “Só um presidente desesperad­o perdoaria a si mesmo”, diz Kalt. “Mas a lei é obscura o bastante para que, dado o desespero, pode valer a tentativa.”

 ?? LUDOVIC MARIN/AFP ?? Suspeitas. Promotor investiga campanha de Trump
LUDOVIC MARIN/AFP Suspeitas. Promotor investiga campanha de Trump
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil