ALUNOS TÊM MUITA LIÇÃO DE CASA, MAS POUCA PROVA
Objetivo é que escolas valorizem menos o conteúdo; professores são treinados para combinar disciplinas
Classe com mesas redondas na escola em Peetri;
Aestudante Karina Pent, de 15 anos, aprendia numa manhã como fazer uma capa de crochê para a tampa do pote de geleia. A professora explicava o detalhe de cada ponto para formar o desenho. A aula de artesanato é obrigatória no currículo nacional estoniano. A menina diz que é relaxante. “Principalmente porque fui dormir às 3 horas de tanta lição de casa.”
A maior queixa dos adolescentes é a quantidade de tarefas extraclasse e de leituras. Professores justificam dizendo que é uma boa forma de eles aprenderem a ter autonomia. Segundo relatórios da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) são 17,3 horas semanais de lição de casa na Estônia, acima da média de outros países, de 17,1 horas. Mesmo assim, a OCDE avalia que o tempo é adequado porque os estudantes têm bom desempenho. Há críticas, no entanto, para nações como o Brasil, em que as tarefas ocupam 21,8 horas e as notas são baixas.
“É muita pressão. Mas se queremos ser alguém na vida precisamos de boa educação”, diz Mia Vahimets, de 15 anos, aluna da Escola Inglesa de Tallinn. Na Escola 21, na mesma cidade, a fala é parecida. “Esperam muito de nós, mas é bom. Se não esperarem nada, não faremos nada”, diz Iris Inek, de 17 anos. O foco do currículo da escola são as artes, o empreendedorismo e a robótica. Uma sala equipada com milhares de blocos de Lego e mesas de cálculo é usada por todas as séries.
Alunos elogiam o fato de nem todas as disciplinas terem provas. É comum professores pedirem só trabalhos ou projetos para avaliação. Na Escola Peetri também não há notas até o 6.º ano. Os pais só recebem relatórios sobre o desempenho dos filhos.
Apesar disso, Triin Ulla, professora de Pedagogia da Universidade de Tallinn, acredita que muitas escolas ainda se preocupam com competição e conteúdo, algo alimentado pelos professores antigos. “Escolas no topo do ranking fazem de tudo para não cair”, critica, referindo-se à avaliação do governo no fim do ensino médio, cujo ranking é feito pela mídia – algo como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ela, isso acontece apesar do direcionamento do ministério para um ensino que valorize as habilidades socioemocionais. “A grande pergunta para qual não tenho resposta é: os resultados do Pisa são por causa das políticas dos últimos anos ou é um legado de antes, do ensino tradicional?”
De qualquer modo, diz Triin, a formação do professor mudou e está focada em competências como resolver problemas e autonomia. O docente também é treinado para combinar disciplinas como Arte e Matemática e trabalhar com tecnologia. As salas de aula têm computador, muitos materiais didáticos online, mas ainda há dificuldades. O objetivo da Estônia é que, até 2020, as escolas valorizem menos conteúdo.
As novas notas do Pisa, das provas feitas em maio, serão divulgadas em 2019. No Brasil os alunos mal sabem do que se trata. Lá os jovens ganham diplomas. “Mostramos o quanto são especiais por representarem o país”, diz a responsável pelo Pisa na Estônia, Gunda Tire.