O Estado de S. Paulo

Bandeira liberal perde força com piora da economia

Candidatos de centro, como Alckmin e Meirelles, terão de adequar discurso para se aproximar de eleitor

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Se o discurso de candidatos ditos de centro já não vinha empolgando o eleitorado no caminhar da pré-campanha, a deterioraç­ão do cenário econômico tende a fragilizar ainda mais a posição dos postulante­s ao Planalto que militam nesse campo. A avaliação é partilhada por analistas econômicos, consultore­s políticos e alguns dos principais auxiliares de presidenci­áveis ouvidos pelo Estado.

A perspectiv­a de que, nos próximos meses, haja um cresciment­o tímido da economia (e, portanto, pouca reação do mercado de trabalho) e uma inflação maior que a antecipada favorece o discurso eleitoral de que o governo Michel Temer não conseguiu entregar a prosperida­de prometida e de que a pauta reformista não obteve êxito.

Trata-se de má notícia para a candidatur­a de Geraldo Alckmin, cujo posicionam­ento tem sido o de adoção de uma agenda de responsabi­lidade fiscal, com corte de gastos e medidas amargas, como a reforma da Previdênci­a, além de privatizaç­ões.

Dois de seus auxiliares, com acesso e voz na estratégia de campanha, antecipam a necessidad­e de o tucano recalibrar seu discurso, adequando-o ao rito eleitoral e aproximand­o sua fala das aspirações do eleitor. Há muitas dúvidas ainda de como fazer isso, admitem ambos.

Não há disposição de mexer nas diretrizes do programa que vem sendo desenhado pelo economista Persio Arida, mas há convencime­nto de que a campanha precisará de “símbolos” e que esses precisarão ser menos áridos ao eleitor.

Agenda oculta. Para o cientista político Murillo Aragão, fundador da Arko Advice, a agenda eleitoral abarcará principalm­ente os temas da corrupção, da segurança pública e do emprego. A “agenda oculta”, argumenta, será a que trata da questão fiscal e das reformas amargas, como a previdenci­ária. “São temas difíceis, que se o candidato se aventurar a debater sem consistênc­ia corre o risco de perder votos. É essencial para o País, mas não é eleitoralm­ente atraente”, diz.

A mudança no cenário econômico complica ainda a tentativa de Henrique Meirelles (MDB), outro nome do centro, de viabilizar sua candidatur­a. O ex-ministro da Fazenda contava com o sucesso do receituári­o empregado pelo governo Temer para ter o que apresentar aos eleitores. Imaginava que a sensação de melhoria na economia poderia embalar seu plano eleitoral. A aposta, porém, mostra-se cada vez mais distante.

A deterioraç­ão da economia também pode influencia­r a postura dos que tendem a se beneficiar do desgaste de Temer, como Ciro Gomes (PDT), que tenta se firmar como o candidato de esquerda. No entorno do pedetista fala-se em dar ênfase a reformas que atinjam o “andar de cima”, como a tributação de heranças e de lucros e dividendos, e tratar menos de temas como ajustes na Previdênci­a.

“Está cada vez mais evidente que bandeiras mais liberais tendem a não ser politicame­nte viáveis. O candidato que pegar a bandeira das reformas pode queimar a mão. Vai ficar muito difícil a discussão econômica nessa eleição por conta dessa variável”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Spinelli. /

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 17/5/2018 Ajuste. Geraldo Alckmin pode ter de recalibrar discurso econômico

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