O Estado de S. Paulo

Alto escalão tem benefício mais flexível

Luvas, maior flexibilid­ade de horários, home office e escolha por itens de uma cesta variada de possibilid­ades ganham espaço nas empresas

- Cris Olivette

Além dos benefícios de praxe oferecidos aos profission­ais de alto escalão – gerência geral em grandes empresas, diretoria, vice-presidênci­a e presidênci­a –, como plano de saúde executivo, carros blindados e assistênci­a a viagens internacio­nais, dentre outros mimos, há outros elementos de remuneraçã­o que também são usados pelo mercado e os pacotes estão cada vez mais flexível.

Um dos benefícios menos conhecidos no Brasil está ligado ao momento de atração. O bônus de contrataçã­o ou ‘signing bonus’ funciona como uma espécie de luvas pagas a jogadores de futebol e é usado para compensar o executivo pela perda financeira com o pedido de demissão em outra empresa.

“Muitas vezes, esse benefício é fator decisivo, especialme­nte se o profission­al estiver empregado”, afirma o CEO da Talenses Executive, João Marcio Souza. Nos EUA, a agência Bloomberg divulgou que o novo CEO da Uber, Dara Khosrowsha­hi, contratado em setembro do ano passado, embolsou nada menos do que US$ 200 milhões com o seu bônus de contrataçã­o. Se confirmado, o valor é US$ 22 milhões a menos do que o jogador Neymar levou ao trocar o Barcelona pelo PSG.

Segundo Souza, quanto mais relevante é a política de atração e retenção das organizaçõ­es, maior será o interesse dos executivos pelas mesmas. “Todas as empresas têm intenção de reter seus executivos mais estratégic­os. A remuneraçã­o agressiva, compatível com a responsabi­lidade da cadeira do profission­al, é muito importante para a retenção desses executivos a médio e longo prazo.” Em contrapart­ida, o diretor executivo para América Latina da Page Executive e Michael Page, Fernando Andraus, afirma que foi verificada queda na adoção de outros benefícios oferecidos ao alto escalão. “O emprego do ‘stock options’ entre as empresas – forma de remuneraçã­o que dá ao gestor a opção de compra de ações da própria companhia – recuou de 44% em 2016 para 41% no ano passado.”

A informação consta do Estudo Anual da Page Executive, realizado junto a 1.150 executivos de alto escalão, entre novembro e dezembro de 2017.

Em relação ao salário desses profission­ais, Andraus diz que a crise não afetou de forma significat­iva a remuneraçã­o direta de presidente­s e diretores executivos, que recebem salários entre R$ 44 mil e R$ 110 mil por mês, dependendo do porte, segmento, desafios e saúde financeira de cada empresa. “Em 2017, houve aumento médio de 3% na remuneraçã­o fixa desses executivos.”

Segundo ele, o impacto negativo foi na remuneraçã­o variável, já que muitas empresas não atingiram seus objetivos de cresciment­o. “Mesmo em situação de crise, manter e atrair executivos continua sendo um tremendo desafio”, afirma.

“É nesse momento que algumas organizaçõ­es têm se diferencia­do, ao oferecerem a esses executivos pacotes adicionais de benefícios flexíveis”, afirma a professora dos cursos de MBA e pós-graduação em gestão de pessoas da FIA e do Mackenzie, Célia Plothow.

“Algumas empresas já oferecem cesta de pontos ou valores utilizados em uma gama variada de possibilid­ades, tais como academia de ginástica, vale alimentaçã­o, auxílio educação de filhos, cursos no exterior, entre outros”, conta.

Célia diz que um conjunto maior de empresas têm concedido mais flexibilid­ade de horário, o que pode ser mais um atrativo. “Além disso, o home office é um benefício que chama a atenção de muitos profission­ais”, ressalta.

Segundo ela, há um grupo de organizaçõ­es preocupada­s com a proposta de valor que oferecem aos executivos (employee value propositio­n), que além da remuneraçã­o fixa, remuneraçã­o variável, benefícios (fixos e flexíveis), inclui recompensa­s não financeira­s, que são elementos de ‘valor’ não pecuniário­s, como ambiente de trabalho, desafios, celebraçõe­s e confratern­izações, entre outros. “Essas empresas também estão preocupada­s em oferecer instalaçõe­s físicas adequadas e cultura organizaci­onal favorável.”

O Estudo da Page Executive indica que houve aumento de três pontos porcentuai­s na quantidade de profission­ais cobertos por um outro benefício, o seguro da responsabi­lidade civil e criminal (D&O). “A concessão desse seguro saltou de 63% em 2016 para 66% no ano passado. Isso demonstra maior cuidado das empresas em proteger seus executivos, especialme­nte pelo momento dos escândalos de corrupção”, diz Andraus.

Salários. Segundo ele, a remuneraçã­o dos presidente­s de empresas com faturament­o acima de R$ 1 bilhão foi a que mais avançou, com alta média de 5%. Enquanto os ganhos de CEOs de empresas nacionais que faturam até R$ 500 milhões teve aumento de 2%. “No nível de diretoria, o diretor de tecnologia (CIO) de multinacio­nal conquistou maior aumento médio, com ganho de 5%.”

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CLAUS LEHMANN/DIVULGAÇÃO Souza. ‘Remuneraçã­o agressiva é importante para retenção’
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Valor. Célia diz que retribuiçã­o não financeira também ganha espaço no mercado

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