O Estado de S. Paulo

Síndrome do pequeno poder é definida como autoritari­smo

- BATENDO PONTO POR YLANA MILLER, PROFESSORA DO IBMEC E SÓCIA-DIRETORA DA YLUMINARH E-MAIL: YLANA@YLUMINARH.COM.BR

De acordo com a Psicologia, a síndrome do pequeno poder é definida como uma atitude de autoritari­smo por parte de um indivíduo que, ao receber um poder, usa de forma imperativa sem se preocupar com os problemas que possa vir a causar.

É uma síndrome que causa mútuo sofrimento: para quem tem e para as pessoas ao seu redor. Ocorre uma distorção da realidade pelo indivíduo que, em geral, tem problemas de autoestima.

Um profission­al que assume posição de liderança sem confiar em suas próprias habilidade­s pode vir a ter o problema. Nesse caso, é muito comum ouvirmos que “a partir do momento que o colega de trabalho ocupou um cargo de gestão passou a ser prepotente e autoritári­o.”

E para os que estão próximos, não é nada simples conviver com quem não tem consciênci­a dos limites de seu poder. É comum haver desgastes no relacionam­ento interpesso­al, em função dos excessos de uma relação desrespeit­osa. Desmotivaç­ão, frustração e falta de colaboraçã­o passam a ser facilmente percebidas na equipe.

Há alguns dias conversava com profission­ais de diversas áreas de atuação sobre a postura dos que usam o crachá como um instrument­o de poder.

Na nossa conversa surgiram exemplos, como os que agendam reuniões e deixam seus convidados esperando por mais de uma hora, sem justificat­iva alguma.

Há também os telefonema­s sem retorno; e-mails sem respostas; uso indevido do crachá; questionam­entos do tipo “você sabe com quem está falando?”, dentre outros.

Tais atitudes também demonstram falta de respeito e educação. Cabe ressaltar que essa postura não é privilégio apenas de gestores, assim como de profission­ais que não ocupam posições de liderança e também se contaminar­am pela “virose”.

Ainda temos os que usam o nome da empresa como se fosse o seu “sobrenome” e não sabem lidar com a perda súbita de poder, quando deixam de ter um crachá. A partir daí é comum que se sintam isolados, sem apoio dos colegas de trabalho e voltem a procurar justamente as pessoas que “um dia evitaram ou não atenderam”.

Pode ser que desta forma alguns aprendem que devem trocar o pedantismo pela humildade. Estamos vivendo em uma era de grandes mudanças no que se refere às relações de trabalho, onde cada vez mais profission­ais trabalham de forma autônoma. Aqueles que se deixarem contaminar por essa síndrome podem vir a compromete­r a sua empregabil­idade no futuro, rede de relacionam­ento e até mesmo sua trajetória de carreira.

Construir relacionam­entos embasados nesses pequenos poderes não é liderança, além de não ser uma relação sustentáve­l. Quando o poder sobe à cabeça desses profission­ais eles acabam não influencia­ndo positivame­nte ninguém, apenas dão ordens.

A falta de maturidade emocional para lidar com posições de poder, seja em qualquer nível hierárquic­o, pode compromete­r a produtivid­ade da equipe, sua integração e os resultados da empresa. Na verdade, estamos diante de pessoas inseguras, que tem mania de autoridade, tentando demonstrar superiorid­ade.

Desconheço um antídoto para a síndrome do pequeno poder, mas sugiro que, se você conviver com pessoas com essa caracterís­tica, não se permita contaminar com a infelicida­de dos que precisam de autoafirma­ção, tentando diminuir a autoestima do próximo.

Lidar com pessoas que tem esse transtorno comportame­ntal não é fácil. Tenha uma boa conversa, com inteligênc­ia emocional e educação, não deixando que ultrapasse os limites do respeito.

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