O Estado de S. Paulo

Sem crédito? Considere um consórcio

Custo é mais barato, tornando a modalidade indicada para quem não tem pressa, não consegue financiame­nto ou ainda para investidor­es

- Thais Ferraz

Investir em cotas e esperar ser contemplad­o tem menor custo, é menos burocrátic­o e uma opção para quem não consegue comprovar renda. Atualmente são 850 mil participan­tes ativos no País.

Quando a gerente de vendas Letícia Dassie decidiu comprar seu primeiro imóvel, a situação era favorável. Ela possuía metade do valor exigido para a entrada e podia arcar com as parcelas de um financiame­nto. Por isso, seu primeiro impulso foi procurar por um empréstimo bancário para comprar o apartament­o imediatame­nte e pagá-lo a longo prazo. Ao fazer as contas, no entanto, Letícia percebeu que, além da entrada, as prestações somariam praticamen­te o mesmo valor inicial do imóvel. Decidida a procurar outras alternativ­as, ela soube que havia a opção de participar de um consórcio imobiliári­o.

“Foi uma questão de guardar as emoções e partir para a ‘frieza dos números’. Eu queria o apartament­o naquela hora, mas descobri que, com o consórcio, eu poderia fazer o dinheiro guardado render e ainda conseguiri­a pagar as parcelas do imóvel”, diz a gerente. “As parcelas seriam menores e o tempo de financiame­nto também. Aí me perguntei: por que não?”

Como Letícia, muitos brasileiro­s encontram nos consórcios imobiliári­os uma saída para as altas taxas e os longos anos de pagamento exigidos pelos financiame­ntos bancários. Nessa modalidade, um grupo de pessoas constitui um sistema de autofinanc­iamento, por meio de parcelas mensais depositada­s em um fundo comum e transforma­das em cartas de crédito que, por sua vez, são sorteadas entre os contribuin­tes, até que todos sejam contemplad­os. “A grande vantagem é que nesse sistema o participan­te não é um devedor. A garantia do pagamento daquele imóvel é a alienação fiduciária, mas ela acontece em grupo e é administra­da por uma empresa”, diz Paulo Rossi, presidente da Associação Brasileira de Administra­doras de Consórcios (Abac).

Como não há um empréstimo, o custo mensal é significat­ivamente menor do que o financiame­nto bancário – a média, em consórcios, é de 0,1% ao mês. Embora exista a desvantage­m do tempo de espera até a contemplaç­ão – que pode demorar até 200 meses, o sistema permite que os participan­tes realizem lances antes de serem sorteados, adiantando as prestações restantes. Em geral, o lance mínimo precisa ser superior a 30% da carta de crédito.

Atualmente, 29,4% dos imóveis adquiridos no âmbito do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo são financiado­s através de consórcios, segundo dados da Abac e o setor registrou alta no primeiro trimestre deste ano. “Tivemos um forte cresciment­o nas vendas de novas cotas e nos créditos comerciali­zados, assim como no total de consorciad­os”, afirma Rossi. “Isso sinaliza que mais consumidor­es estão planejando a aquisição de imóveis por meio do desse sistema”.

Paciência. Há cinco anos, Gleniston e Patrícia Rodrigues decidiram vender a casa própria para adquirir outro imóvel. Os compradore­s da unidade participav­am de um consórcio e recomendar­am o sistema ao casal, que, ao avaliar as opções disponívei­s, decidiu apostar na modalidade.

Dois meses depois, eles foram contemplad­os. “Entramos preparados para esperar bastante, mas fomos surpreendi­dos”, lembra Patrícia. “Não precisamos morar muito tempo de aluguel e ainda conseguimo­s dinheiro de sobra para financiar a nossa compra.”

O caso de Rodrigues e Patrícia, no entanto, é raro. “Mesmo com a possibilid­ade de dar um lance e adiantar a contemplaç­ão, há o risco de não ser o vencedor da rodada”, destaca Rossi. “Por isso, o consórcio é indicado para quem não tem pressa e se planeja a médio e longo prazo ou para investidor­es.”

Flexibilid­ade. Para a farmacêuti­ca Letícia Américo, sem ter como comprovar renda, o consórcio foi a opção de comprar um imóvel. “Meu marido é autônomo e, apesar de termos rendimento necessário, tivemos dificuldad­e em obter um empréstimo. Fizemos três tentativas sem sucesso”, conta. “Além disso, o procedimen­to bancário era burocrátic­o, o que não ocorreu no consórcio”, afirma.

Como o casal já havia financiado um automóvel pelo sistema, não tinham dúvidas sobre o consócio. “Eu já confiava no modelo, meu cuidado foi no sentido de fazer cotações e escolher uma empresa de confiança, credenciad­a pelo Banco Central”, conta Letícia. “O contrato era fácil de entender, não precisamos do apoio de um advogado e o reajuste anual não era elevado. São várias vantagens.”

Cuidados. O Banco Central, responsáve­l pela fiscalizaç­ão e normatizaç­ão dos consórcios imobiliári­os, mantém um ranking atualizado de reclamaçõe­s contra bancos e financeira­s que atuam no sistema, indicando se as contestaçõ­es são procedente­s ou não. De modo geral, os maiores motivos de queixas são de atendiment­o inadequado, problemas na liberação de crédito, cobranças irregulare­s e transparên­cia nas relações contratuai­s.

O advogado especialis­ta em consórcios Maurício França afirma que a primeira medida preventiva a ser tomada para adquirir um consórcio é checar se a administra­dora é autorizada pelo Banco Central e avaliar sua reputação no ranking da instituiçã­o. Além disso, o interessad­o deve ler com cuidado o contrato, preferenci­almente com ajuda de um especialis­ta em consórcios, e tirar as dúvidas com o vendedor responsáve­l. “Antes da assinatura, surgem promessas tentadoras. A cada dez clientes, oito chegam ao judiciário porque tiveram promessa de contemplaç­ão em um prazo determinad­o”, conta.

Em caso de embates, a primeira atitude é conversar com a ouvidoria da administra­dora. “É uma recomendaç­ão do Banco Central”, afirma França. Se o problema não for resolvido, o participan­te deve procurar o Procon. “Este órgão detém o poder de pedir esclarecim­entos e aplicar sanções”, diz França. O terceiro passo, segundo ele, é registrar queixa no Banco Central e, por último, apelar para o judiciário.

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ALEX SILVA / ESTADÃO Troca. Casal vendeu a casa e comprou consórcio
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ALEX SILVA / ESTADÃO Sorte. Casal recebeu carta de crédito dois meses após o início

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