O Estado de S. Paulo

Adesão ao sistema deve levar em conta o longo prazo

Planejador financeiro diz que o interessad­o não deve compromete­r mais do que 33% da renda com aluguel e prestação

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Como qualquer forma de financiame­nto, o consórcio imobiliári­o exige anos de comprometi­mento financeiro. Por isso, especialis­tas defendem que o acordo só seja firmado após um bom planejamen­to, que leve em consideraç­ão questões como gastos fixos, reajustes anuais e multas rescisória­s.

O presidente da Associação Brasileira das Administra­doras de Consórcios (Abac), Paulo Rossi, afirma que a modalidade não é indicada para todas as ocasiões. “Consórcio é para quem entende a importânci­a do planejamen­to financeiro e não tem pressa de entrar no imóvel”, diz. “O participan­te precisa saber o que está buscando e conhecer perfeitame­nte suas próprias condições, estando ciente de que ele pode ser o último a ser contemplad­o”.

Para o executivo, uma boa forma de usar a modalidade é como investimen­to. “Quem já tem um imóvel e deseja fazer um ‘upgrade’ ou comprar outro para alocar e ter um rendimento extra, por exemplo, tem tempo

Preparo “Quando falo em poupar, isso significa que o interessad­o vai deixar de gastar em algo para comprar uma casa. Ele precisa pensar que cada fração, cada 120 avos da prestação, é um tijolo a mais. É isso que vai motivá-lo a ir até o final” Reinaldo Domingos PRESIDENTE DA DSOP EDUCAÇÃO

para esperar e conseguirá aproveitar todas as vantagens do consórcio, um ótimo produto para estes casos”, diz.

O executivo cita o exemplo de um pai que comprou um imóvel para o filho de 5 anos via consórcio. “Foi um pensamento a longo prazo. Mesmo que o menino seja o último a ser contemplad­o, quando ele estiver com 20 ou 25 anos, terá crédito suficiente para comprar uma casa ou escritório”, explica. “Aliando educação financeira a um contrato de consórcio, é possível fazer excelentes negócios”.

O presidente da DSOP Educação Financeira, Reinaldo Domingos, alerta que um dos maiores problemas do brasileiro que busca por um imóvel está na viabilidad­e de pagamento a longo prazo. “Quando se trata de consórcio ou financiame­nto, muitas pessoas não conseguem quitar as prestações. Quando falamos de poupança para comprar à vista, poucos conseguem mantê-la a longo e médio prazo.”

De acordo com o especialis­ta, uma parte consideráv­el dos brasileiro­s deixa de pagar suas prestações ainda no primeiro ano de contrato. “É um problema de ausência de visão para além de 12 meses, quando estamos, na verdade, falando sobre processos

Contas.

que demoram 120 meses. Isso leva muita gente a desistir do pagamento e a perder uma parcela do que já foi investido”.

Para que não falte dinheiro para o pagamento das parcelas, o fundador e CEO da Life Finanças Pessoais, André Novaes, recomenda que o interessad­o faça um cálculo com base na renda mensal. “Quando alguém assume um aluguel, o ideal é que ele custe no máximo 25% da renda familiar. Para o consórcio, o ideal é que o valor

das parcelas não passe de 33% ”, afirma. Quando o interessad­o ainda não tem um imóvel próprio e precisa pagar aluguel em conjunto com as cotas do consórcio, não pode compromete­r mais de um terço da renda.

Entre 100 e 200 meses, prazo da maioria dos contratos de consórcio, muita coisa pode acontecer. “A pessoa precisa entender que, ao comprar o imóvel, ela vai estar imobilizan­do uma boa parte do seu patrimônio, mas também uma boa parte da sua vida”, diz Novaes. “Se ela receber uma oportunida­de de trabalho em um local distinto, mas tiver sido contemplad­a com um imóvel em algum lugar, ela pode se ver presa àquele imóvel e menos motivada a aceitar. Isso precisa ser ponderado”, diz.

Novaes afirma que, embora não exista uma condição ideal quando se fala em finanças pessoais, alguns elementos devem ser levados em consideraç­ão. “O interessad­o deve se perguntar se vai permanecer na mesma cidade e avaliar se o emprego é razoavelme­nte fixo”, explica. “Um médico que está estabeleci­do há dez anos, por exemplo, dificilmen­te começará em outra cidade. Já um executivo de uma empresa pode ser realocado a qualquer momento”.

Ao contrário de Rossi, Domingos acredita que para tornar possível a aquisição do imóvel é enxergar o consórcio como uma poupança, não um investimen­to. “Quando eu falo em poupar, isso significa que o interessad­o vai deixar de gastar em algo para adquirir uma casa. Ele tem que pensar que cada fração, cada 120 avos da prestação, é um tijolo a mais na construção. É isso que vai motivá-lo a ir até o fim”, diz.

Problemas.

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DSOP Cenário. Muitos deixam de pagar prestações, diz Domingos

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