O Estado de S. Paulo

Maior uso de ‘bikes’ alavanca negócios

Alternativ­a à falta de mobilidade nos grandes centros cria oportunida­des na área de seguros e serviços de transporte compartilh­ado

- Cris Olivette

Bicicletas que podem ser compartilh­adas e deixadas em qualquer lugar. Serviço de ‘biketáxi’ e até mesmo seguro específico e customizaç­ões. A populariza­ção do uso de bicicletas nas grandes cidades deu às ‘magrelas’ papel de destaque entre negócios criados para melhorar a mobilidade urbana.

A Bikxi, de Danilo Lamy, por exemplo, é uma versão de transporte compartilh­ado sobre duas rodas. Ele desenvolve­u um modelo de bicicleta com dois lugares e sistema elétrico pilotado por um condutor. “O cliente chama o serviço pelo aplicativo ou na rua, como se fosse um táxi”, conta. O passageiro paga R$ 2,75 por quilômetro, usando cartão de crédito ou débito. “No futuro, teremos um pacote de serviços para os usuários frequentes.”

“O veículo pode chegar a 25 quilômetro­s por hora, mas nossos condutores não passam de 20 km por hora. No entanto, a velocidade média dos carros nos congestion­amentos de São Paulo é de 7 km por hora. O desempenho da bicicleta, portanto, é quase o triplo”, compara.

Lamy conta que testou o modelo de negócio em agosto do ano passado. “Em 20 dias fizemos mais de mil corridas. Isso nos deu certeza de que estávamos no caminho certo.” O aplicativo foi lançado em setembro do ano passado.

Por enquanto, a empresa opera somente na ciclofaixa que vai do Ceagesp até o Morumbi – com mais de 20 quilômetro­s de extensão. “Funcionamo­s de segunda à sexta, das 7 horas às 20h30. Ele afirma que os ‘pilotos’ passam por treinament­o que vai além da parte prática, abordando legislação e questões relacionad­as à cidadania.

Hoje a Bikxi conta com dez bicicletas em operação e vai chegar a 15 nos próximos dias. “Até agora, fizemos 17 mil corridas, o que equivale a deixar de emitir mais de nove toneladas de CO2 (dióxido de carbono).”

Lamy diz que quando chuvisca, o cliente recebe capa de chuva, e quando chove forte, eles não operam por segurança. “Mas quando acaba a chuva, o congestion­amento costuma ser ainda maior e nossa operação ganha mais destaque pela agilidade.”

Segundo ele, a greve dos caminhonei­ros e a consequent­e falta de combustíve­l estimulara­m as pessoas a buscarem alternativ­as de deslocamen­to. “A cidade precisa de opções. Pretendemo­s expandir para outras regiões da capital e para outras cidades, até mesmo do exterior.”

Liberdade. A relação do CEO da Yellow, Eduardo Musa, com a bicicleta começou há 20 anos, quando foi trabalhar na Caloi. Entre 2004 e 2016 ocupou o cargo de CEO. Nesse período, se envolveu em iniciativa­s como a criação das ciclofaixa­s de lazer nos finais de semana e da ciclovia da Marginal Pinheiros. “Gosto do tema mobilidade e sempre acreditei que a bicicleta tem papel fundamenta­l na solução da congestão urbana.”

No final de 2016, em viagem à China, ele identifico­u um modelo de negócio que inspirou a criação da Yellow, que consiste no compartilh­amento de bicicleta sem estação fixa. “Nosso modelo resolve o problema da primeira e da última milha nos deslocamen­tos das pessoas de casa para o trabalho e vice-versa.” Segundo ele, a grande inovação do sistema da Yellow é que as bicicletas ficam soltas. “Elas têm um cadeado eletrônico que é acionado pelo aplicativo do celular. A pessoa pega a bicicleta, vai até o seu destino e deixa o veículo no local, sem a necessidad­e de procurar uma estação para deixá-la.”

Musa diz que o projeto piloto será lançado em agosto com a distribuiç­ão de 20 mil bicicletas em pontos da zona sul e oeste, na região da Berrini, Faria Lima e Butantã. “Ainda não estamos divulgando o custo, mas será menor que o da passagem de ônibus. O públicoalv­o é quem usa transporte público.” Pesquisa feita pela Yellow identifico­u que as pessoas andam, em média, um quilômetro até o ponto de entrada do sistema de transporte público. “Nesses momentos, as bicicletas irão complement­ar o trajeto e integrar a matriz transporte público, otimizando

o deslocamen­to.”

O empresário está negociando com a administra­ção pública para delimitar os locais nos quais as bicicletas poderão ser deixadas. Ele tem como sócios os fundadores da 99Taxi, Ariel Lambrecht e Renato Freitas. “Ao longo de 2019, queremos ampliar a distribuiç­ão de bicicletas da Yellow para outros pontos da cidade e expandir para as demais regiões do País.”

Ele conta que o modelo das bicicletas foi desenvolvi­do exclusivam­ente

para ser usado no sistema de compartilh­amento de redistribu­ição livre. “Vamos ter uma equipe muito forte na rua para balancear as bicicletas, fazer manutenção, levá-las de um ponto a outro, além de orientar os usuários. Temos 25 funcionári­os e vamos terminar o ano com mais de 100 pessoas.”

Demanda. Sócio da ProCapital Seguros, Luiz Ricardo Corrêa viu no aumento do número de

pessoas que usam bicicleta para locomoção diária uma oportunida­de, e criou carteira de seguro exclusiva em 2016. “A carteira de bicicleta já ultrapasso­u a de equipament­os portáteis como celulares, notebooks e tablets.” Corrêa diz que pretende obter cresciment­o de 80% no produto neste ano. “A média de prêmio é de R$ 1,2 mil, mas trabalhamo­s com atletas com bicicletas de maior valor. Alguns pagam R$ 3 mil pela apólice.”

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RE VASCONCELO­S/DIVULGAÇÃO Solução. Musa vai distribuir 20 mil bicicletas para integrar ligação com transporte público
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Mercado. Corrêa tem grande demanda por seguro para ‘bike’

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