Maior uso de ‘bikes’ alavanca negócios
Alternativa à falta de mobilidade nos grandes centros cria oportunidades na área de seguros e serviços de transporte compartilhado
Bicicletas que podem ser compartilhadas e deixadas em qualquer lugar. Serviço de ‘biketáxi’ e até mesmo seguro específico e customizações. A popularização do uso de bicicletas nas grandes cidades deu às ‘magrelas’ papel de destaque entre negócios criados para melhorar a mobilidade urbana.
A Bikxi, de Danilo Lamy, por exemplo, é uma versão de transporte compartilhado sobre duas rodas. Ele desenvolveu um modelo de bicicleta com dois lugares e sistema elétrico pilotado por um condutor. “O cliente chama o serviço pelo aplicativo ou na rua, como se fosse um táxi”, conta. O passageiro paga R$ 2,75 por quilômetro, usando cartão de crédito ou débito. “No futuro, teremos um pacote de serviços para os usuários frequentes.”
“O veículo pode chegar a 25 quilômetros por hora, mas nossos condutores não passam de 20 km por hora. No entanto, a velocidade média dos carros nos congestionamentos de São Paulo é de 7 km por hora. O desempenho da bicicleta, portanto, é quase o triplo”, compara.
Lamy conta que testou o modelo de negócio em agosto do ano passado. “Em 20 dias fizemos mais de mil corridas. Isso nos deu certeza de que estávamos no caminho certo.” O aplicativo foi lançado em setembro do ano passado.
Por enquanto, a empresa opera somente na ciclofaixa que vai do Ceagesp até o Morumbi – com mais de 20 quilômetros de extensão. “Funcionamos de segunda à sexta, das 7 horas às 20h30. Ele afirma que os ‘pilotos’ passam por treinamento que vai além da parte prática, abordando legislação e questões relacionadas à cidadania.
Hoje a Bikxi conta com dez bicicletas em operação e vai chegar a 15 nos próximos dias. “Até agora, fizemos 17 mil corridas, o que equivale a deixar de emitir mais de nove toneladas de CO2 (dióxido de carbono).”
Lamy diz que quando chuvisca, o cliente recebe capa de chuva, e quando chove forte, eles não operam por segurança. “Mas quando acaba a chuva, o congestionamento costuma ser ainda maior e nossa operação ganha mais destaque pela agilidade.”
Segundo ele, a greve dos caminhoneiros e a consequente falta de combustível estimularam as pessoas a buscarem alternativas de deslocamento. “A cidade precisa de opções. Pretendemos expandir para outras regiões da capital e para outras cidades, até mesmo do exterior.”
Liberdade. A relação do CEO da Yellow, Eduardo Musa, com a bicicleta começou há 20 anos, quando foi trabalhar na Caloi. Entre 2004 e 2016 ocupou o cargo de CEO. Nesse período, se envolveu em iniciativas como a criação das ciclofaixas de lazer nos finais de semana e da ciclovia da Marginal Pinheiros. “Gosto do tema mobilidade e sempre acreditei que a bicicleta tem papel fundamental na solução da congestão urbana.”
No final de 2016, em viagem à China, ele identificou um modelo de negócio que inspirou a criação da Yellow, que consiste no compartilhamento de bicicleta sem estação fixa. “Nosso modelo resolve o problema da primeira e da última milha nos deslocamentos das pessoas de casa para o trabalho e vice-versa.” Segundo ele, a grande inovação do sistema da Yellow é que as bicicletas ficam soltas. “Elas têm um cadeado eletrônico que é acionado pelo aplicativo do celular. A pessoa pega a bicicleta, vai até o seu destino e deixa o veículo no local, sem a necessidade de procurar uma estação para deixá-la.”
Musa diz que o projeto piloto será lançado em agosto com a distribuição de 20 mil bicicletas em pontos da zona sul e oeste, na região da Berrini, Faria Lima e Butantã. “Ainda não estamos divulgando o custo, mas será menor que o da passagem de ônibus. O públicoalvo é quem usa transporte público.” Pesquisa feita pela Yellow identificou que as pessoas andam, em média, um quilômetro até o ponto de entrada do sistema de transporte público. “Nesses momentos, as bicicletas irão complementar o trajeto e integrar a matriz transporte público, otimizando
o deslocamento.”
O empresário está negociando com a administração pública para delimitar os locais nos quais as bicicletas poderão ser deixadas. Ele tem como sócios os fundadores da 99Taxi, Ariel Lambrecht e Renato Freitas. “Ao longo de 2019, queremos ampliar a distribuição de bicicletas da Yellow para outros pontos da cidade e expandir para as demais regiões do País.”
Ele conta que o modelo das bicicletas foi desenvolvido exclusivamente
para ser usado no sistema de compartilhamento de redistribuição livre. “Vamos ter uma equipe muito forte na rua para balancear as bicicletas, fazer manutenção, levá-las de um ponto a outro, além de orientar os usuários. Temos 25 funcionários e vamos terminar o ano com mais de 100 pessoas.”
Demanda. Sócio da ProCapital Seguros, Luiz Ricardo Corrêa viu no aumento do número de
pessoas que usam bicicleta para locomoção diária uma oportunidade, e criou carteira de seguro exclusiva em 2016. “A carteira de bicicleta já ultrapassou a de equipamentos portáteis como celulares, notebooks e tablets.” Corrêa diz que pretende obter crescimento de 80% no produto neste ano. “A média de prêmio é de R$ 1,2 mil, mas trabalhamos com atletas com bicicletas de maior valor. Alguns pagam R$ 3 mil pela apólice.”