O Estado de S. Paulo

Sete corpos são achados na Urca

Famílias de supostos traficante­s alegam que as vítimas foram mortas após fugirem e se renderem na mata; polícia abriu investigaç­ão

- Fábio Grellet / RIO

Dois dias após confronto, corpos de supostos traficante­s foram encontrado­s em pedras e na mata. Famílias acusam a PM.

Sete corpos de supostos traficante­s foram encontrado­s ontem na Urca, bairro de classe média alta do Rio e zona militar. Na sexta-feira, a região foi palco de um intenso tiroteio entre bandidos e a Polícia Militar, que paralisou por duas horas a circulação do bondinho do Pão de Açúcar, um dos principais pontos turísticos do País. Até o funcioname­nto do Aeroporto Santos Dumont foi afetado.

Seis corpos estavam em pedras em uma área próxima da Praia Vermelha e outro foi localizado na mata que liga a Urca ao bairro vizinho do Leme. Familiares identifica­ram os corpos como sendo de traficante­s que atuavam no Morro Chapéu Mangueira, no Leme, e acusam a Polícia Militar de ter matado os homens após se renderem. A polícia informou que ainda investiga se os corpos são dos bandidos que participar­am do tiroteio da semana passada.

Em busca dos desapareci­dos no confronto, ontem, familiares dos supostos traficante­s fizeram uma caminhada de aproximada­mente duas horas por trilhas na mata até a Urca, refazendo o trajeto percorrido pelos fugitivos na sexta-feira. Durante o percurso, no fim da manhã, conseguira­m localizar seis corpos em pedras, à beira do

Tiros em Copacabana

Um homem foi baleado ontem em confronto com a Polícia Militar na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Uma pistola de calibre restrito e um radiotrans­missor foram apreendido­s. mar, em uma região de difícil acesso conhecida como Pedra do Anel. O sétimo corpo foi localizado à tarde, na mata.

Os familiares informaram aos bombeiros sobre os corpos e peritos da Polícia Civil foram ao local para examiná-los. No fim da tarde, acabaram removidos para o Instituto Médico-Legal (IML). Até o momento não houve nenhuma identifica­ção oficial dos corpos, mas alguns já haviam sido identifica­dos pelo primeiro nome ou por meio de apelidos: Ernani, o Boldinho; Ângelo, apelidado de Foca; Tinaia; Da Coreia; Nathan da Vila Aliança e HB.

O corpo encontrado na mata seria de Franklin Miranda, de 29 anos, que segundo familiares morava no complexo de favelas da Maré, na zona norte, mas estava participan­do de uma disputa entre facções que ocorre no Leme desde fevereiro e se acirrou nos últimos dias.

Acusação. Parentes dos mortos encontrado­s neste domingo acusam a Polícia Militar de ter matado os seis traficante­s quando eles já tinham se rendido, na mata do Morro da Urca. Depois os PMs teriam abandonado os corpos entre as pedras. Essa versão que aponta execução foi contada aos parentes dos mortos por traficante­s que conseguira­m fugir.

Questionad­a pela reportagem, a Polícia Militar informou apenas que os corpos serão submetidos a perícias para identifica­r a causa das mortes. O caso é investigad­o pela Delegacia de Homicídios do Rio.

Até fevereiro, os Morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, embora vizinhos, eram controlado­s por facções rivais: o Comando Vermelho (CV) dominava o primeiro e o Terceiro Comando Puro (TCP) controlava o segundo. O traficante do TCP Paulo Roberto da Silva Taveira, conhecido como Cara Preta, chefe do tráfico no Chapéu Mangueira, estava preso desde 2009, mas conseguiu autorizaçã­o judicial para visitar a família em julho de 2017. Ele saiu e nunca mais voltou à prisão. Passou a reunir armas e comparsas para tomar o controle do tráfico no Morro da Babilônia, o que ocorreu em fevereiro.

Na sequência, o Comando Vermelho tentou retomar a favela, o que tem levado a tiroteios frequentes. Há uma semana, houve mais uma tentativa de retomada: cerca de 30 criminosos do CV chegaram à Babilônia e iniciaram um confronto com os rivais do TCP.

A Polícia Militar interveio às 5h30. Os confrontos continuara­m ao longo do dia e dois supostos traficante­s morreram baleados. Os criminosos começaram a fugir pela mata, e a polícia iniciou uma busca, que continuou nos dias seguintes e culminou no tiroteio de sexta-feira.

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DOMINGOS PEIXOTO/A GÊNCIA O GLOBO Resgate. Disputa entre Terceiro Comando Puro e Comando Vermelho iniciou os tiroteios

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