Angelo Segrillo
Rússia tem cem nacionalidades diferentes, com língua e costumes próprios.
Uma peculiaridade da Rússia que os brasileiros pouco conhecem é o fato de que ela é um estado multinacional. Se no Brasil (e outros estados nacionais) a nacionalidade de uma pessoa é determinada pelo local onde ela nasce (jus soli), na Rússia (e países eslavos) a nacionalidade de uma pessoa nada tem a ver com o local de nascimento e é determinada pela ascendência familiar: é a mesma nacionalidade do pai ou da mãe. Esse princípio jurídico do jus sanguinis eterniza as diferenças que aqui chamamos de étnicas e faz com que na Rússia convivam mais de cem nacionalidades diferentes. Na língua russa, há duas palavras para “russo”: russkii (russo étnico, de pai ou mãe russa) e rossiyanin (qualquer pessoa nascida na Rússia). Todo
rossiyanin tem os mesmos direitos como cidadão, independentemente de ele (por nacionalidade) ser russo étnico (russkii), checheno, judeu, ucraniano ou outro.
Ou seja, o que no Brasil chamamos de diferenças étnicas, lá são consideradas diferenças nacionais e cada uma dessas nações que compõem a Rússia se acha no direito de usar sua própria língua, costumes, etc. Isso cria potencial para conflitos interétnicos (internacionais) internos, mas também gera uma grande riqueza cultural.
Se você for a Moscou ou está em Moscou, poderá entrar em contato com muitas nacionalidades (culturas) diferentes. Aproveite para conhecê-las. Como as nacionalidades se misturam nas cidades russas, aqui vão algumas dicas. Em vez de pagar os olhos da cara comendo nos restaurantes nas ruas principais do centro, procure nas ruas e bairros menores pelos restaurantes azerbaijanos, onde há refeições baratas e boas. Em vez de comprar comida cara nos supermercados, experimente algum rynok (que são como as nossas feiras) nos bairros onde você poderá comprar frutas e verduras frescas e conhecer os georgianos, ucranianos e outras nacionalidades que dominam esse negócio.
É claro que, na capital Moscou, você deverá ir à catedral de São Basílio, na Praça Vermelha, para conhecer rituais da Igreja Ortodoxa russa. Mas aproveite e vá também à Mesquita Congregacional de Moscou, pertinho do estádio Olímpico, a maior mesquita da Europa. Lá você vai entrar em contato com os costumes de várias das nacionalidades islâmicas da Rússia, principalmente as da região das montanhas do Cáucaso (por exemplo, chechenos, inguches) e originárias dos países que ficam na Ásia Central ex-soviética (cazaques, usbeques, turcomenos, tajiques e quirguizes).
Em suma, quando for à Rússia, explore a riqueza cultural daquele estado multinacional e lembre-se (até para não dar “foras” com os nativos) de que nem todo russo (rossiyanin) que você encontrar será russo (russkii). Aliás, para “treinar”, olhe a foto da seleção da Rússia: você consegue identificar quem ali é russo (rossiyanin), mas não é russo (russkii)? Dica: comece pelos goleiros...
21 MIL habitantes tem a cidade de Broonitsy, sede da Argentina na Rússia
te que foi atrás. O iraquiano Farhah Ali estava sozinho na chuva na porta do CT esperando para ver Messi. “Pode ser de longe”, conformava-se.
A Argentina está precisando de calmaria. O time desembarcou no sábado para encontrar a tranquilidade que faltou nos 19 dias de preparação. Lesões, cortes, protestos religiosos e críticas deixaram o técnico Jorge Sampaoli de cabeça quente. Romero e Lanzini perderam o Mundial, Ansaldi exagerou nas redes sociais com uma foto na banheira e o time teve de cancelar o polêmico amistoso com Israel. A Argentina terá silêncio total e facilidade para viajar, pois a cidade fica perto de dois aeroportos, fora do trânsito da capital – essa foi a razão da escolha de Broonitsy.
Embora o Estado tenha batido com a cara na porta, pois o primeiro treino de Messi na Rússia foi adiado por causa do mau tempo, a passagem pela cidade de 21 mil habitantes valeu, pois revelou novas faces e confirmou algumas impressões. Os russos são desconfiados. Espiam da janela, perscrutam as credenciais e baixam os olhos. Poucos posam para fotos e quase ninguém dá o sobrenome. São Tatiana, Yelena e Alexei.
Outros sorriem, são mais amistosos e observam naquela movimentação estrangeira a chance de conhecer o outro. Foi isso que disse Tatiana, organizadora de uma feira artesanal na pracinha. “Estamos felizes por receber vocês”. Pareceu sincero. Mas a melhor explicação desse vilarejo que parece deslocado na Copa foi dada por Alexei, que puxou conversa enquanto empurrava o carrinho com um dos quatro filhos. Com gesto largo, ele abriu os braços para descrever sua gente. Nem precisou de tradução.