O Estado de S. Paulo

Turma do STF retira foro de Blairo Maggi

Magistrado­s enviaram investigaç­ão sobre Blairo Maggi para a 1ª instância em MT; decisão segue jurisprudê­ncia firmada em maio

- Amanda Pupo Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

A Primeira Turma do STF decidiu ontem retirar o foro privilegia­do do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi (PP-MT), e enviar processo contra ele à primeira instância. Senador licenciado, Maggi é acusado de corrupção ativa enquanto era governador. Para a Turma, o STF só tem competênci­a para julgar crimes cometidos durante o mandato e em função do cargo.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu ontem que a restrição do foro privilegia­do, nos moldes do que definido para senadores e deputados federais, também vale para ministros de Estado. Para a Turma, composta por cinco dos 11 ministros da Corte, o STF só tem competênci­a para julgar crimes cometidos durante o mandato e em função do cargo.

O entendimen­to foi firmado na decisão que enviou para a primeira instância um inquérito que investiga o ministro da Agricultur­a Blairo Maggi (PP-MT), que também é senador licenciado. Maggi é acusado, junto com o conselheir­o Sérgio Ricardo de Almeida, do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por corrupção ativa enquanto os dois ocupavam, respectiva­mente, os cargos de governador de Mato Grosso e deputado estadual. Almeida também responde por lavagem de dinheiro.

Em maio, o Supremo decidiu restringir o foro privilegia­do de deputados federais e de senadores a crimes cometidos no exercício do mandato e em razão da atividade parlamenta­r.

“A razão de decidir do julgamento (da questão de ordem que restringiu o foro para parlamenta­res federais) se aplica indistinta­mente em relação a qualquer hipótese de prerrogati­va de função”,

afirmou o ministro Luiz Fux, relator do caso, que apresentou a questão à Turma.

Na sessão de ontem, Fux foi acompanhad­o pelos ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Marco Aurélio Mello. O ministro Alexandre de Moraes também votou para que o inquérito de Maggi saísse da Corte, mas por levar em conta o mandato como senador, e não o cargo de ministro.

O advogado Fábio Medina, que defende Maggi, disse que “aceita com total tranquilid­ade a decisão do STF”. “O ministro Blairo já havia decidido há muito tempo largar a vida política. E defende o fim da prerrogati­va de foro”, afirmou.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que defende Ricardo de Almeida, afirmou que não faz diferença o caso ter ido para a primeira instância.

Repercussã­o. Como o entendimen­to foi firmado pela Primeira Turma, e não pelo plenário, caberá a cada integrante da Corte decidir se aplicará o mesmo entendimen­to em outros inquéritos que investigam ministros. Os ministros Aloysio Nunes (PSDB-SP), de Relações Exteriores; Gilberto Kassab (PSDSP), de Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es; Moreira Franco (MDB-RJ), de Minas e Energia; e Eliseu Padilha (MDB-RS), da Casa Civil, também são alvos de inquéritos no STF, que ainda comanda outras duas investigaç­ões contra Maggi.

Na visão do advogado Daniel Falcão, especialis­ta em Direito Constituci­onal, a decisão da Primeira Turma era algo “esperado”. “O grande precedente já foi tomado pelo plenário da Corte. A regra agora é restringir”, comentou Falcão. Para ele, a partir da decisão do plenário, as Turmas devem continuar adotando esse entendimen­to. “É difícil que a Segunda Turma não entenda desta maneira.”

Como o inquérito contra Blairo também tinha como denunciado um conselheir­o de Tribunal de Contas de Estados, autoridade julgada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Primeira Turma também aplicou a restrição para esse cargo. A decisão dividiu ministros do STJ. Para dois ministros ouvidos pelo Estado, o Supremo mandou uma sinalizaçã­o forte para reduzir o foro de outras autoridade­s e avançou em um tema pendente de análise ainda no STJ. Procurada, a presidente do STJ, ministra Laurita Vaz, informou via assessoria que os reflexos da decisão “serão analisados pela Corte Especial do STJ”.

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CARLOS MOURA/STF Integrante. O ministro Luiz Fux durante a sessão da Primeira Turma ontem no Supremo

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