O Estado de S. Paulo

Setor de bebidas quer reverter fim de subsídio

Efeito da greve. Grandes fabricante­s ameaçam demitir 15 mil funcionári­os se governo mantiver decreto que cortou benefício fiscal do setor para compensar gastos com ‘bolsa caminhonei­ro’; Receita prevê arrecadar R$ 740 milhões neste ano com a medida

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA COLABOROU VERA ROSA /

Escolhidos para bancar parte do subsídio ao diesel para caminhonei­ros, fabricante­s de bebidas querem reverter medida que retira benefício tributário da Zona Franca.

Escolhida para bancar uma parte do subsídio ao diesel para os caminhonei­ros, a indústria de bebidas pressiona o governo para reverter a medida que retirou o benefício tributário para a fabricação do xarope dos refrigeran­tes na Zona Franca de Manaus.

Ao todo, 59 fabricante­s de refrigeran­tes, entre elas as gigantes Coca-Cola, Ambev e Pepsi, ameaçam cortar 15 mil empregos diretos caso seja mantido o decreto do presidente Michel Temer que praticamen­te acaba com o incentivo fiscal. Segundo os fabricante­s, com o decreto, há aumento de 8% nos preços dos refrigeran­tes para os consumidor­es, o que provocará recuo de 15% nas vendas, com queda de R$ 6 bilhões de faturament­o e R$ 1,7 bilhão na arrecadaçã­o de impostos.

As empresas reclamam que, para garantir o subsídio de R$ 0,46 no preço do diesel – a bolsa caminhonei­ro –, o governo provocou uma grande distorção na

cadeia produtiva do setor ao “quebrar contrato” com as empresas que se instalaram no polo de fabricação do xarope de refrigeran­tes em Manaus em busca dos incentivos fiscais da

Zona Franca.

Depois de ruralistas e exportador­es, esse é mais um setor que reclama do impacto do pacote adotado pelo governo para atender os caminhonei­ros. Reunidas

na Associação Brasileira das Indústrias de Refrigeran­tes (Abir), as 59 empresas do setor montaram uma grande articulaçã­o política no Congresso para derrubar a medida. Três parlamenta­res da bancada do Amazonas – os senadores Vanessa Graziottin (PCdoB) e Eduardo Braga (MDB-AM), além do deputado Pauderney Avelino (DEM) – apresentar­am um decreto legislativ­o para derrubar o decreto presidenci­al cada um. “Queremos a revogação já. Que o governo volte atrás”, disse Alexandre Jobim, presidente da Abir.

Segundo ele, o decreto “anula” o incentivo regional. “Compensa continuar com o polo de concentrad­os? A resposta da indústria é não. Não fica de pé a Zona Franca.” Eles já se reuniram duas vezes com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, que alegou distorções no sistema com o incentivo. Um das reuniões ocorreu na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com toda a bancada do Estado.

A Receita Federal prevê um aumento de R$ 740 milhões na arrecadaçã­o em 2018 e R$ 1,9 bilhão no ano que vem com o decreto. Esse dinheiro vai compor parte do custo de R$ 13,5 bilhões com o subsídio ao diesel.

A legislação permitia que fabricante­s instalados na Zona Franca acumulasse­m créditos de IPI na venda de insumos produzidos na região para engarrafad­ores instalados em outros Estados. Esses créditos equivaliam a 20% do valor da venda. Com o decreto, caíram para 4%.

Para a Receita, o benefício provoca distorção e desequilib­ra a concorrênc­ia. Pelos cálculos do Fisco, para cada R$ 100 vendidos por uma empresa que produz na Zona Franca, R$ 4 sobram de crédito, o que funcionari­a na visão da Receita como um forma de “dar dinheiro” para as empresas.

Na contramão da Abir, o grupo de empresas que não está na Zona Franca comemorou a decisão do governo. O presidente da Frente Parlamenta­r em Defesa da Indústria Brasileira de Bebidas, deputado Fausto Pinato (PP-SP), se mobiliza para impedir que o decreto seja derrubado. “Ele desaponta os gigantes do setor de bebidas e mexe na ferida do oligopólio.” O Ministério da Fazenda não comentou.

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