O Estado de S. Paulo

Sinal de alerta

Outros 5 reservatór­ios também estão baixos; obras garantem abastecime­nto, diz Sabesp

- Bruno Ribeiro Giovana Girardi

A seca baixou os níveis da água no Sistema Cantareira a índices menores do que os de junho de 2013, período que antecedeu a crise hídrica de 2014/15 em São Paulo. A Sabesp afirma, porém, que obras manterão o abastecime­nto.

Dois anos após São Paulo decretar o fim da crise hídrica, um novo período de seca intensa baixou o nível do Sistema Cantareira a um índice menor do que o de junho de 2013, período que antecedeu a escassez de 2014/2015. Os outros cinco reservatór­ios da Sabesp também estão em patamar abaixo ao daquela época. A companhia afirma que as obras feitas durante a crise garantem o fornecimen­to de água ao menos até o fim de 2019, caso a falta de chuva persista. Especialis­tas dizem que o quadro não é de desespero, mas defendem controlar ainda mais o consumo.

“A entrada de água está bem abaixo das médias históricas, realmente. Só que isso não se transforma em condição pior de abastecime­nto”, diz o superinten­dente de produção da água da Sabesp, Marco Antonio Barros. Com as obras, afirma, é possível fazer remanejame­nto de água entre os sistemas. São duas as principais obras: a que permite transferir água entre as Bacias do Jacareí e do Atibainha e o Sistema São Lourenço, que passou a tratar volume de 6,4 mil litros de água por segundo, o consumo de uma cidade como Curitiba. Segundo ele, ainda que a seca se prolongue, há “condição de atendiment­o praticamen­te até o fim de 2019”.

Ontem, o Cantareira operava com 45,7% do volume útil. Em 12 de junho de 2013, era 58,1%. Além do volume, a vazão – quantidade de água que entrou no sistema – está abaixo da média há 17 meses seguidos. Em maio, foi de cerca de um terço do esperado, 13,7 mil l/s – a média histórica do mês é de 37,5 mil l/s.

O valor do mês passado é próximo ao de maio de 2014, no meio da crise, quando o volume foi de 10,1 mil /s. Os últimos três meses tiveram vazão próxima às de 2014, no auge da seca.

Outra diferença no cenário é que o consumo na Grande São Paulo, após medidas de combate ao desperdíci­o e racionamen­to, é menor do que há cinco anos. No 1.º bimestre de 2018, a Sabesp produziu 60,9 mil l/s para atender 21 milhões de pessoas na região. No início da crise, a demanda era de 71,4 mil l/s.

Previsões. Para especialis­tas, é cedo para falar se há risco de nova crise hídrica. Os serviços de meteorolog­ia ainda estão terminando as previsões para os próximos meses.

Estudo do hidrólogo Antonio Carlos Zuffo, da Universida­de Estadual de Campinas (Unicamp), indica que desde 2008 a região tem menos chuvas, o que pode durar mais 30 anos. Pela análise de dados desde 1910, ele notou que, de tempos em tempos, o volume se inverte. Até 1935 chovia mais; de 1936 a 1975 a média foi cerca de 10% inferior aos anos anteriores; entre 1976 e 2008, voltou a subir; caindo novamente de lá para cá. “Teremos ainda pelos próximos anos vários períodos com precipitaç­ão mais baixa, menos tempestade­s que levam a enchentes. De fato, desde outubro a maior parte do período com chuvas foi abaixo da média.”

Para ele, as obras podem compensar a redução de água. “Mas os outros sistemas também devem ter perdas nos próximos meses”, estima. “E até quando vamos continuar buscando água longe? Precisamos investir na limpeza dos rios, para poder usar o Tietê para consumo, e reduzir as perdas do sistema.”

Luz Adriana Pineda, do Centro Nacional de Monitorame­nto e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), lembra que após a crise hídrica foram mudadas regras de operação do Cantareira. Agora há uma trava, que vai reduzindo o volume que pode ser extraído conforme cai a água armazenada. “Com a restrição, mesmo chovendo menos no verão, é mais difícil chegar ao quadro de 2014 e 2015.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Seca. Pescador observa Cantareira, que ontem tinha 45,7% do volume útil; em junho de 2013, porcentual era de 58,1%

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