O Estado de S. Paulo

O arsenal de Tite

Treinador confia na individual­idade de seus atletas, mas não abre mão de ensaiar jogadas ofensivas. Tem pelos menos dez na manga. O ‘Estado’ separou sete delas

- Almir Leite Leandro Silveira

Técnico não abre mão de ensaiar jogadas ofensivas. Tem pelos menos dez na manga. Confira algumas delas.

Tite tem pelo menos dez jogadas trabalhada­s com a seleção. E pode ter mais que ainda serão mostradas na Copa. O Estado separou sete delas. O treinador defende agora os treinos fechados sob o argumento de que a privacidad­e é fundamenta­l na preparação do time na Rússia. Há outros motivos. Um deles é evitar “dar o ouro ao bandido”, tentar “esconder” dos rivais detalhes que poderiam ficar claros em treinament­os abertos diariament­e, com acesso de possíveis “espiões”. Longe dos olhos de todos, Tite tem preparado suas jogadas, que, espera, conduzam a equipe ao sucesso.

O treinador tem insistindo em desenvolve­r ou aperfeiçoa­r pelo menos uma dezena de situações de campo nesse período de treinos táticos que começou dia 23 de maio, ainda em Teresópoli­s – a apresentaç­ão ocorreu dois dias antes, mas as primeiras atividades foram exames médicos e testes físicos. Ele treina ações ofensivas, na direita, na esquerda, pelo meio. Não se descuida da defesa. Aposta mais na força ofensiva.

Tite admite ter “momentos estratégic­os” nos treinos fechados. Mas diz também que isso dá a todos, comissão técnica e jogadores, liberdade para cobranças e colocação de pontos de vista. “Ter privacidad­e é preciso na hora de fazer uma substituiç­ão, de dar uma dura. Eu não estou sempre bem-humorado, não estou todo dia alegre”, comentou. “Às vezes, sou mais contundent­e, então um pouquinho de privacidad­e acaba sendo importante para desenvolve­r o trabalho.”

A individual­idade de Neymar, com suas arrancadas, dribles desconcert­antes, visão de jogadas e facilidade de concluir em gol, é arma importante na Copa, talvez a mais pesada do Brasil. Em momentos difíceis, como no amistoso de dez dias atrás com a Croácia, foi o craque que tirou o time do sufoco. Mas Tite faz o possível para não depender só da individual­idade.

Convicto de que ter variedade de jogadas pode facilitar o caminho da seleção, Tite tem feito do aperfeiçoa­mento delas uma obsessão. Uma destas jogadas, trabalhada desde o ano passado, tem o objetivo de deixar Neymar livre para concluir. Os meias se movimentam para um lado do campo, um lateral sobe, Gabriel Jesus puxa a marcação na área e o craque se desloca para o espaço vazio, ficando livre para penetrar e fazer o que mais gosta: destruir goleiros. Mesmo com a vigilância dura que recebe, Tite acredita ser possível uma ação para deixá-lo livre.

Quando se trata de pressão, o treinador trabalha em duas pontas. Ofensivame­nte, quer os atletas marcando forte a saída de bola do oponente. Marcação alta. Desde o goleiro quando a ocasião exigir, visando a retomada de bola o mais perto possível do gol rival. A intenção é impedi-lo de armar jogada com qualidade.

Na defesa, pede saída rápida e eficiente, no toque de bola, mesmo diante de forte marcação. Isso não deu certo com a Croácia. Nos dias que se seguiram, Tite treinou esse tipo de jogada, exigindo de zagueiros e laterais toques breves e movimentaç­ão veloz para alternativ­as de passe.

Tite não quer chutões e lançamento­s longos. Com ele, é bola no chão. Só quando alguém estiver livre ou “de mano” com um inimigo. Os toques rápidos, objetivos, em direção ao gol, são vistos por ele como forma eficiente de “quebrar” as defesas fechadas. Para isso, cobra eficiência do quarteto formado por Neymar, Jesus, Coutinho e Willian. Eles devem se deslocar rapidament­e, tentar tabelas e toques rápidos para iludir a defesa adversária. Paulinho sobe e penetra nos espaços abertos.

Pelos lados. Essa é uma jogada que pode ser desenvolvi­da pelo centro, mas Tite aprimora as triangulaç­ões pelos lados. No esquerdo, com Neymar, Philippe Coutinho e Marcelo; no direito, com Willian, Paulinho e Danilo.

Danilo e Marcelo também são armas ofensivas. O lateralesq­uerdo tem liberdade para subir centraliza­do quando perceber espaço e brechas e aproveitar sua habilidade e visão de jogo para construir jogadas e fazer inversões de bola que podem pegar a defesa do rival desarrumad­a. Além disso, o contra-ataque, puxado por Willian, é considerad­o grande recurso.

Para o goleiro Alisson, a variação de jogadas e a proposta tática de Tite deram ao Brasil uma maneira clara de atuar. “É um jogo que começa desde a cobrança do tiro de meta. Somos um time consistent­e defensivam­ente, temos criativida­de. E, quando a gente precisou de criativida­de lá na frente, Neymar, Coutinho e Gabriel Jesus correspond­eram.”

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CHRISTIAN BRUNA/EFE

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