O Estado de S. Paulo

Para dar valor à cúpula

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1.

Qualquer conversa entre EUA e Coreia do Norte, enquanto elas acontecem, reduz significat­ivamente o risco de uma guerra que poderia matar milhões. O simples ato de conversar mudou o comportame­nto dos dois países e a percepção de um conflito é iminente.

2.

O comunicado conjunto assinado por Trump e Kim contém educados chavões diplomátic­os, mas é vago. Entre adversário­s, esse tipo de comunicado é comum. Ele não resolve nenhuma questão, mas mantém os países engajados.

3.

Trump fez uma concessão significat­iva, mas fácil de se reverter: prometeu suspender os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul. Ele estabelece­u o que analistas chamam de “congelar para congelar”, no qual os EUA congelam os exercícios e a Coreia do Norte congela seus testes com armas. Isso tem o objetivo de reduzir tensões e criar espaço para concessões mais significat­ivas.

4.

Autoridade­s da Coreia do Sul expressara­m, no entanto, surpresa com relação à promessa de Trump de suspender os exercícios militares, sugerindo que ele talvez tenha feito a concessão em nome de Seul sem seu consentime­nto ou conhecimen­to. A violação pública do presidente americano da aliança envia a mensagem de que os sul-coreanos não podem contar sempre com os americanos.

5.

Os EUA encenaram a cúpula de um jeito que deu a Kim algumas simbólicas, mas significat­ivas, concessões. A pedido da Coreia do Norte, os dois líderes foram apresentad­os como iguais, elevando Kim de pária global a líder de superpotên­cia. Como a legitimida­de de Kim está entre suas grandes vulnerabil­idades, esse tratamento foi como um prêmio.

6.

Isso só pode ser feito uma vez e os EUA receberam relativame­nte pouco da Coreia da Norte em troca. Analistas considerar­am que se perdeu uma oportunida­de de tirar de Pyongyang concessões mais significat­ivas, como um desarmamen­to parcial.

7.

O encontro enviou importante mensagem. Kim aparenteme­nte forçou Trump a ir à mesa de negociação desenvolve­ndo armas nucleares e mísseis que podem alcançar os EUA. Mas o registro sobre violações de direitos humanos de Kim não pareceu ser uma questão para os EUA.

8.

Se o objetivo do encontro era aproximar o mundo de uma solução para a crise da Coreia do Norte, isso não ocorreu. A Coreia do Norte não assumiu passos rumo ao desarmamen­to. Os EUA também não fizeram nada de concreto.

9.

As ações de Trump na política externa poderão limitar o que ele pode alcançar com o regime de Pyongyang. Ao retirar os EUA do acordo nuclear do Irã, seu governo aprofundou as suspeitas de não ser confiável.

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