RODMAN QUER SUA PARTE EM UM NOBEL DA PAZ
Analistas, no entanto, são prudentes em razão do tempo e da personalidade dos líderes
Oex-jogador americano de basquete Dennis Rodman afirmou ontem, em tom de brincadeira, que deveria estar concorrendo ao Nobel da Paz ou “ao menos a uma parte dele”. Um dos poucos ocidentais a ter visitado a isolada Coreia do Norte para se encontrar com Kim Jong-un, Rodman desembarcou na segunda-feira em Cingapura dizendo que estava “empolgado por fazer parte” do encontro histórico entre Kim e o presidente americano, Donald Trump.
Rodman deu uma entrevista entre lágrimas à emissora americana CNN sobre as negociações sem precedentes. “Kim está tentando mudar seu povo e sua cultura há um tempo e acho que Trump fez um ótimo trabalho ao manter sua compostura e entender que Kim Jong-un quer confiar nos EUA”, disse.
Não houve, no entanto, indícios de que Rodman estaria envolvido nas conversas oficiais. Em entrevista à CNN, ele disse: “É um grande dia. E estou aqui para ver. Estou muito feliz”, afirmou após secar as lágrimas. Questionado se o ex-jogador havia sido convidado a Cingapura, Trump disse que “não”.
Rodman é um fervoroso defensor de Trump e na sua visita a Pyongyang, no ano passado, e em um momento de máxima tensão entre o regime e Washington, ele deu a Kim um exemplar do livro A Arte da Negociação, de Trump, publicado em 1987. O ex-jogador ressaltou que viajou com o objetivo de “abrir as portas” ao diálogo.
Mas, apesar de Rodman insinuar que as negociações possam levar a um Nobel da Paz, especialistas se mantêm prudentes em razão do tempo e da personalidade dos dois líderes: um abalou a diplomacia internacional ao retirar os EUA do acordo nuclear iraniano. Outro é considerado culpado de várias violações dos direitos humanos.
“É muito cedo”, reagiu Asle Sveen, historiador especializado em Nobel. “Mas, se isso levar a um desarmamento real na Península Coreana, será muito difícil não dar o prêmio. Seria uma situação bizarra, mas já aconteceu de pessoas de passado muito violento terem recebido o Nobel da Paz.”
Antes mesmo do encontro, várias vozes, incluindo personalidades como o ex-presidente americano Jimmy Carter, afirmavam que Trump talvez merecesse o Nobel. Mas, dez anos após ter dado a Barack Obama um prêmio bastante questionado por ser prematuro, o comitê deverá ser mais cuidadoso.
Se de fato houver avanços, o comitê do Nobel estará diante de um dilema, considerando-se o passivo dos dois principais protagonistas. “Muitos dos que receberam o prêmio tinham sangue nas mãos”, afirma o diretor do Instituto de Pesquisa para a Paz em Olso, Henrik Urdal. “A questão é saber se fizeram o bem o suficiente para limpar o sangue. Nem Trump, nem Kim merecem levar o prêmio este ano.”