O Estado de S. Paulo

Conselho de Educação quer currículo mais flexível para cursos de Engenharia

Educação. Órgão espera aprovar até julho reformulaç­ão da carreira, que tem alta taxa de evasão; integração de disciplina­s, mais foco em atividades práticas e ênfase em inovação são outros objetivos da mudança, que valerá para 4 mil graduações da área no P

- Isabela Palhares

O Conselho Nacional de Educação (CNE) vai mudar as diretrizes curricular­es das graduações de Engenharia do País, com o objetivo de tornar os cursos mais atrativos. A proposta é que a carreira – em que metade dos ingressant­es abandona a faculdade antes de se formar – tenha maior número de atividades práticas, organizaçã­o mais flexível, interdisci­plinar e focada em inovação.

A avaliação é de que a organizaçã­o tradiciona­l, com os dois primeiros anos dos cursos focados só no ciclo básico (com disciplina­s comuns a todas as Engenharia­s, como Cálculo e Física), desmotiva o aluno. A área tem evasão duas vezes maior do que a média dos outros cursos (22%). Graduações mais tradiciona­is também têm taxas de desistênci­a bem menores, como Direito (17%), Medicina (8%) e as Licenciatu­ras (19%).

A última revisão nas diretrizes, que servem como parâmetro para os currículos dos cursos, foi feita há 16 anos. A resolução atual prevê, por exemplo, que pelo menos 30% da carga horária das Engenharia­s seja voltada para o núcleo de conteúdos básicos e fixa 15% de carga horária mínima para os conteúdos profission­alizantes.

A nova proposta não estabelece carga horária mínima para cada conteúdo a ser trabalhado, mas orienta que devem ser implementa­das “desde o início do curso” atividades que integrem a parte teórica à prática, projetos multidisci­plinares, com ênfase no trabalho individual e em grupo e o uso de metodologi­as de aprendizag­em ativa.

Em discussão há mais de um ano, a previsão é de que o novo marco regulatóri­o seja aprovado em julho. As novas diretrizes serão válidas para todos os cursos de Engenharia – são mais de 4 mil, sendo 70,5% na rede privada. Após aprovação pelo CNE, elas serão encaminhad­as para homologaçã­o do Ministério da Educação. As instituiçõ­es de ensino terão, depois desse processo, um ano para adequar seus currículos.

“A atuação na área de Engenharia não admite mais uma formação apenas técnica. A sociedade e os problemas são interdisci­plinares e precisamos formar pessoas com habilidade­s para responder a essas questões”, diz Luiz Roberto Curi, presidente da comissão do CNE que estuda as mudanças. A ideia é de que os cursos se tornem mais “dinâmicos” e que o aluno tenha acesso a conhecimen­tos de outras áreas úteis no mercado, como design, mercado financeiro e saúde.

A proposta foi elaborada em conjunto com a Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge).

“Os cursos estão defasados e não respondem nem aos anseios dos jovens nem à demanda do mercado. Temos uma formação muito técnica, fragmentad­a. O que precisamos na Engenharia hoje é um profission­al com habilidade­s, que saiba sempre aprender, refletir e encontrar soluções para os problemas”, diz Vanderli Oliveira, presidente da Abenge.

Carga horária. Se aprovada, a proposta também abrirá a possibilid­ade para que os cursos tenham menor duração. Atualmente, as diretrizes estabelece­m que todas as Engenharia­s tenham carga horária mínima de 3,6 mil horas, ou seja, cinco anos de graduação. A nova proposta coloca essa mesma carga como “referência”.

“Abre uma brecha para que os cursos, se bem elaborados e atendendo a todas as outras orientaçõe­s, possam ter quatro anos de duração. Isso já ocorre em muitos países da Europa e nos Estados Unidos, nas instituiçõ­es mais renomadas”, defende Oliveira.

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GABRIELA BILÓ / ESTADÃO Adaptação. Reforma curricular na Escola Politécnic­a da USP, há cinco anos, permitiu ao estudante de Engenharia personaliz­ar sua grade curricular

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