O Estado de S. Paulo

Três tenores

Com um futebol erudito, Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi orquestram suas equipes em busca da taça

- Glauco de Pierri Gonçalo Junior ENVIADOS ESPECIAIS / MOSCOU

Os craques que correm por fora

A festa de encerramen­to da Copa do Mundo de 1990, na Itália, encantou o mundo com uma novidade – os Três Tenores. Nas Termas de Caracala, em Roma, em 7 de julho daquele ano, os eruditos Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti cantaram, com o maestro Zubin Mehta conduzindo a magnífica Orquestra Maggio Musicale Fiorentino e a Orquestra do Teatro da Ópera de Roma.

Vinte e oito anos depois, na Copa do Mundo de 2018, uma nova versão dos Três Tenores continua encantando o mundo – os também eruditos Cristiano Ronaldo, Neymar e Lionel Messi estreiam na Rússia com as seleções de Portugal, Argentina e Brasil com um objetivo único: conquistar o título do campeonato mundial de futebol.

Protagonis­tas do torneio, os três carregam nas costas o peso da expectativ­a dos torcedores de seus países – mas quem disse que isso será um problema para esses astros? O primeiro a entrar em campo será Cristiano Ronaldo, em uma das partidas mais esperadas da primeira fase. Na sexta-feira, Portugal enfrenta a Espanha em Sochi, às 15h (horário de Brasília).

Eleito cinco vezes como o melhor jogador do planeta pela Fifa, o craque que ajudou o país a conquistar a Eurocopa de 2016 está em mais uma bela temporada. Com o Real Madrid, faturou mais uma vez o título da Liga dos Campeões da Europa e tem se destacado como capitão e líder de sua seleção. CR7 anotou nada menos do que 15 gols em nove jogos nas Eliminatór­ias – todas as jogadas da seleção portuguesa passam pelos seus pés.

“Ele faz toda a diferença. Quando você tem o melhor jogador do mundo no seu time, é automático – o outro time fica com receio. Cristiano Ronaldo faz com que o adversário pense: “devo ir ou não devo ir”. E ele pode criar isso apenas com sua presença em campo”, disse nesta semana o veterano zagueiro português José Fonte, que joga no Dalian Yifang, da China.

Por uma taça. Outro “Tenor” na Rússia, Lionel Messi vai estrear diante da Islândia, dia 16, pressionad­o por uma fila que não anda. É provavelme­nte a última oportunida­de para que o dono de cinco Bolas de Ouro da Fifa não passe em branco com a camisa da seleção. São três finais consecutiv­as e três vicecampeo­natos (Copa América 2015, Copa Centenário e Copa de 2014). Pode ser a última chance, pois o próprio craque não descarta a aposentado­ria.

“O fato de perdermos três finais nos fez passar por momentos delicados com a imprensa argentina por ela não entender a diferença do que significa chegar a uma final. Não é fácil e é preciso ser valorizado. Claro que é importante conquistar, mas chegar à decisão não é simples”, disse ao jornal Sport.

Messi chega com a obrigação de encerrar o período de 25 anos sem títulos – a última conquista foi na Copa América de 1993. Ele tem o peso nos ombros de suprir a carência de um país que não sabe o que é gritar “campeão” desde o fim da carreira de Diego Maradona.

Messi entra pressionad­o também na disputa pelo prêmio de melhor do mundo – Cristiano Ronaldo já abriu certa dianteira na temporada. Uma boa campanha no Mundial, como uma semifinal, por exemplo, meta pessoal que o próprio craque argentino já definiu, pode recolocálo à frente. Neste ano, a escolha do melhor jogador do mundo da Fifa será em dezembro.

Desde que assumiu o comando da seleção, o objetivo do técnico Jorge Sampaoli é fazer o craque do Barcelona se sentir à vontade em campo. Isso aconteceu poucas vezes, é fato. A mais emblemátic­a foi no último jogo das Eliminatór­ias, com vitória sobre o Equador fora de casa por 3 a 1 e três gols do astro. Na campanha do vice-campeonato na Copa disputada no Brasil em 2014, Messi reclamou de cansaço na reta final. Esse pode ser o calcanhar de Aquiles da Argentina. Ele já fez 60 jogos na temporada, o que é bastante para um jogador que tem sobre si a responsabi­lidade de levar sua seleção à taça tão esperada.

Sonho. “Tem que confiar, sonhar, não tem que segurar a onda não. Tem que falar que é brasileiro, ter orgulho. Tem que sonhar mesmo. Sonhar não é proibido, os 23 convocados e a comissão são quem mais estão sonhando com o título, confiantes no nosso futebol e em busca da conquista”. É assim que Neymar, o mais jovem dos “tenores da bola”, e o que vai estrear mais tarde, tem encarado a Copa. Confiante ao extremo, ele falou logo após a vitória por 3 a 0 sobre a Áustria, no último amistoso antes do primeiro jogo da seleção brasileira, domingo, contra a Suíça, às 15h (horário de Brasília), na Arena Rostov. O Mundial da Rússia pode significar a mudança de patamar na carreira para o atacante brasileiro, que há pouco menos de um ano trocou o Barcelona pelo Paris Saint-Germain e que ainda está bem abaixo de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.

Uma boa participaç­ão na Rússia-2018 com a seleção brasileira poderá fazer com que ele tenha uma chance real de tentar faturar a sua primeira Bola de Ouro. Não custa sonhar. Mesmo um degrau abaixo de Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, várias estrelas são “figurinhas brilhantes” no álbum da Copa do Mundo. São atletas acima da média, fundamenta­is em suas seleções, mas que ainda buscam a ascensão definitiva. E o Mundial da Rússia é o caminho.

O primeiro nome dessa lista é o do egípcio Mohammed Salah, o melhor jogador africano da atualidade. Responsáve­l direto pela classifica­ção do seu país, quebrando um jejum de 28 anos, Salah é ídolo também na Inglaterra. Eleito o melhor jogador da Premier League por jornalista­s e atletas ingleses, Salah superou o recorde de gols na temporada, que era do uruguaio Luis Suárez e do português Cristiano Ronaldo. Se ele fizer uma boa Copa, pode embaralhar a disputa pelo próximo prêmio de melhor do mundo.

Outro que pode entrar nessa briga é o francês Antoine Griezmann. Ganhador da Chuteira de Ouro em 2016 como artilheiro da Europa, o francês é o destaque de uma geração dourada. Muitos apostam na França entre os semifinali­stas. Se isso acontecer, o atacante também sobe de patamar. O Barcelona está de olho nele faz tempo e pode concluir a negociação na próxima janela. Na entrevista coletiva de ontem, ele desconvers­ou:

“A decisão (sobre ir ao Barcelona) já está tomada, mas não é o momento de falar disso.”

Memórias de 2014. Um dos grandes responsáve­is pelo dinamismo alemão, Tony Kroos traz lembranças tristes para os brasileiro­s. Ele fez dois gols no 7 a 1 no Mineirão, na última Copa. É considerad­o um dos melhores do mundo em sua posição. Não chega a ser um finalizado­r nem um craque, mas é peça-chave no volume de jogo da seleção.

Luis Suárez, quarto melhor do mundo em 2016 e referência do Barcelona e da seleção uruguaia, teve uma temporada regular. Quer se recuperar na Copa. Em 2014, depois de uma fase de grupos surpreende­nte em que venceu Inglaterra e Itália, a seleção uruguaia caiu nas oitavas de final diante da Colômbia. Não deve ter dificuldad­e para passar a fase de grupos, mas precisa provar ainda que pode levar o time mais adiante.

Um dos grandes nomes da famosa “geração belga”, Kevin de Bruyne tem tudo para se consolidar como craque – assim como o time pode se firmar como uma potência. É preciso justificar o terceiro lugar no ranking da Fifa. O atacante polonês Lewandowsk­i está mais ou menos na mesma situação: reconhecid­o no cenário europeu como um dos melhores centroavan­tes, ele precisa colocar a Polônia em negrito numa Copa.

Depois de ganhar o Prêmio Puskas com o golaço que marcou diante do Uruguai – um dos gols mais bonitos da história das Copas –, James Rodríguez viu sua carreira patinar. Quem sabe um novo Mundial possa fazer da Colômbia protagonis­ta e recolocá-lo entre os grandes.

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MAXIM SHEMETOV/REUTERS Maestria. CR7 marcou 15 gols em 9 jogos nas Eliminatór­ias
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Afinação. Mundial pode dar a Neymar a Bola de Ouro
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JUAN MABROMATA/AFP Compasso. Messi busca ao menos a semifinal
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EDUARDO NICOLAU/ESTADÃO

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