O Estado de S. Paulo

Presidente da Fifa distribui R$ 2,8 bi em bondades

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

Gianni Infantino assumiu a Fifa em 2016 graças a uma campanha parecida a de seus antecessor­es Blatter e João Havelange: distribuir dinheiro aos eleitores e garantir apoio. Dois anos depois, ele pode dizer que está cumprindo sua promessa com juros e correção monetária.

Hoje, os delegados das 209 federações nacionais receberão documentos em que serão informados dos resultados financeiro­s da entidade sob sua gestão e sobre quanto tem sido distribuíd­o a cada um. Após dois anos no cargo, Infantino compromete­u US$ 775 milhões (R$ 2,8 bilhões) a cartolas de todo o mundo, em mais de 1,6 mil projetos para supostamen­te desenvolve­r o futebol nos países.

Documentos confidenci­ais da Fifa obtidos com exclusivid­ade pelo Estado e pelo jornal The New York Times revelam que a Copa se mostrou resiliente. Apesar da crise de corrupção que levou à prisão inúmeros cartolas em 2015, que provocaram perdas de US$ 997 milhões, novos parceiros asiáticos voltaram a garantir receita recorde.

Infantino, assim, termina seu segundo ano com lucro líquido na Fifa de US$ 100 milhões (R$ 372 milhões), bem abaixo dos US$ 378 milhões na Copa de 2014, no Brasil, mas superando um déficit que se aprofundav­a a cada ano. Além disso, em reservas estratégic­as, a entidade espera contar com mais de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,3 bi) ao fim do ano “graças à Copa do Mundo”. Os dados foram apresentad­os sábado passado, numa reunião a portas fechadas em Moscou.

A distribuiç­ão de dinheiro aos delegados de federações para garantir apoio tem sido ainda maior. Entre 2011 e 2014, Blatter distribuiu US$ 1 bilhão a seus membros. Agora, em apenas dois anos, o volume chega a US$ 775 milhões, mesmo com menos caixa na Fifa.

Fontes dentro da entidade garantem que a distribuiç­ão de recursos tem uma relação direta com os planos de Infantino de garantir, em 2019, uma reeleição. Para isso, porém, o cartola

precisa mostrar que sua gestão não apenas dá resultado, mas também distribui dividendos entre aqueles que o apoiam. Exatamente como fazia Joseph Blatter. Exatamente como agia João Havelange.

Prova disso são os projetos aprovados. Das 1,6 mil iniciativa­s, mais de 500 delas são destinadas a apoiar os custos de operação das federações nacionais. Ou seja, pagando salários, transporte e até reformas de sedes sociais. O benefício, portanto, é ao cartola. E não necessaria­mente ao futebol daquele país.

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