O Estado de S. Paulo

Empresas tentam derrubar tabela do frete na Justiça

Advogados alegam que imposição de preço mínimo contraria direito de livre concorrênc­ia; AGU já acompanha 40 processos

- Renée Pereira Cleide Silva

Enquanto o governo discute uma nova tabela de preço mínimo do frete, empresas e associaçõe­s entram com dezenas de ações na Justiça para derrubar o acordo fechado com os caminhonei­ros, no fim de maio. A maioria alega inconstitu­cionalidad­e da Medida Provisória 832, que institui a política de preços do transporte rodoviário de cargas. Mas também há questionam­entos em relação a outras medidas adotadas pelo governo para compensar os benefícios aos caminhonei­ros, como a redução do Reintegra, programa de incentivo fiscal aos exportador­es.

“No afã de ver cessar a greve e desobstrui­r as rodovias de todo o País, o Poder Público concedeu o que não poderia ter concedido e passou além de sua competênci­a legal e constituci­onal”, avalia o sócio-fundador do escritório Azevedo Sette Advogados, Ordélio Azevedo Sette. Segundo ele, o acordo envolve, pelo menos, 11 questões que representa­m violações legais. (ler mais ao lado).

“As empresas fazem um planejamen­to contando com esses programas e decisões. Aí o governo altera a regra, a margem das empresas cai e o prejuízo aumenta”, diz Sette. O escritório já entrou com três ações na Justiça, sendo uma contra a redução do Reintegra. As outras contestam a implementa­ção da tabela de preço mínimo do frete.

Até ontem a Advocacia-Geral da União (AGU) estava monitorand­o 40 ações judiciais referentes à MP 832 e à Resolução da ANTT n.º 5.820, que regulament­a o assunto. Do total, 12 ações são coletivas, propostas por associaçõe­s representa­ntes de empresas, e 18 estão suspensas por decisão do Tribunal Regional Federal da 5.ª Região (TRF5), que acolheu recurso da AGU em defesa das normas. Uma ação aguarda posicionam­ento do Supremo Tribunal Federal (STF).

A expectativ­a é que o número de ações aumente ainda mais nos próximos dias. O escritório Mattos Filho, por exemplo, deverá entrar hoje com uma ação contra o tabelament­o do preço dos fretes. “Há clientes se articuland­o para contestar a medida, pois entendem que o governo não pode impor preços”, diz o sócio do escritório Mattos Filho, Bruno Werneck.

No escritório Machado Meyer há entre 10 e 15 pedidos de análise sobre a constituci­onalidade da MP. “Estamos em conversas com algumas associaçõe­s de setores prejudicad­os pelas medidas”, afirma o sócio do Machado Meyer, Lucas Sant’Anna. “Entendemos que a fixação de preços para o setor privado é contra o direito de livre concorrênc­ia.” Novas ações. A Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA) entrou ontem com Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF) questionan­do o tabelament­o do frete. A Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) fará o mesmo hoje ou amanhã.

A Associação Nacional dos Exportador­es de Cereais (Anec) e a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) também recorreram à Justiça alegando a inconstitu­cionalidad­e do tabelament­o dos fretes e pedindo a impugnação administra­tiva da medida pela Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT).

“Não tem como ter um tabelament­o fixo num setor regido pela Bolsa de Valores, que tem altas e baixas”, diz Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec. “Ninguém é pão-duro, é que não pode existir uma medida dessas num regime de livre concorrênc­ia.”

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TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL -25/5/2018 Sob pressão. Para especialis­tas, governo fez concessões a grevistas que não deveria ter feito

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