O Estado de S. Paulo

No meio das eleições, o BC

- FÁBIO ALVES E-MAIL: FABIO.ALVES@ESTADAO.COM TWITTER: @COLUNAFABI­OALVE FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS COLUNISTA DO BROADCAST

Desde a disparada o dólar ante o real, com a moeda americana chegando perto dos R$ 4,00, esquentou o debate sobre se o Banco Central deveria elevar os juros básicos para conter a depreciaçã­o do real e não apenas usar a artilharia dos swaps cambiais.

O Banco Central vem repetindo exaustivam­ente que a política monetária é separada da cambial e que não há relação mecânica entre as duas. Ou seja, o BC não vai usar juros para controlar a taxa de câmbio. Mas os analistas estão divididos sobre esse tema.

Para Tony Volpon, economista­chefe para Brasil do banco UBS, em tempos “normais”, a gestão da política monetária pode ser tocada mesmo “a livro texto”: juros mirando inflação, câmbio flutuante, etc.

“No caso dos países emergentes, por suas debilidade­s institucio­nais, fragilidad­e fiscal, falta de poupança, entre outras variáveis, quando há bruscas mudanças de cenário – seja por causas externas ou internas – você cai em um regime de exceção”, diz Volpon. “Nesse caso, as coisas não funcionam como em tempos normais, pois há uma ligação mais estreita entre política monetária e cambial.”

Isso porque, na visão dele, nesse “regime de exceção”, a taxa de juros da política monetária começa a não ser somente instrument­o de inflação, mas de remuneraçã­o do risco dos investidor­es, os quais exigem um prêmio de risco.

Essa foi a razão pela qual Volpon mudou recentemen­te sua aposta para a taxa Selic no fim deste ano. Ele prevê agora que o BC vai elevar os juros em 2 pontos porcentuai­s, dos atuais 6,50% para 8,50%, após a eleição presidenci­al.

Ele argumenta que o BC pode até certo ponto escolher o timing do ajuste, isto é, pode postergar o ajuste de juros a custo de maior intervençã­o no câmbio, embora isso tenha como limite o tamanho das reservas internacio­nais, atualmente ao redor de US$ 380 bilhões. Para Volpon, não parece ser uma escolha viável politicame­nte elevar os juros antes das eleições.

Já na opinião do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, o BC não deve elevar a Selic exclusivam­ente por conta do movimento da moeda.

“O País não vive em um regime de câmbio fixo ou apresenta grande necessidad­e de financiame­nto externo (ou dívida local indexada ao dólar) que justifique uma alta de juros apenas por conta da depreciaçã­o da moeda”, diz Barbosa. “Em um regime de metas, o Banco Central orienta sua política monetária, diante de um choque, olhando para os efeitos secundário­s sobre os preços.”

Ele lembra que a banda do regime de metas de inflação serve justamente para absorver o impacto inicial do choque até que o Banco Central tenha clareza se a mudança de preços produzida por esse choque se trata de um realinhame­nto de preços relativos ou inflação. “Enquanto se tratar de um ajuste de preços relativos, as expectativ­as permanecer­em ancoradas e a inflação estiver dentro da banda, a taxa de juros não deve responder”, argumenta.

Para Barbosa, a direção da taxa de juros também dependerá muito da política econômica em 2019, primeiro ano de mandato do novo presidente da República. “Quanto mais organizada, menores as chances de uma elevação dos juros em função da ancoragem das expectativ­as e de uma eventual apreciação da moeda, tendo como contrapont­o uma aceleração do cresciment­o que pressionar­á a inflação futura”, afirma. Por ora, Barbosa mantém a sua aposta de elevação da Selic para 8,0% ao fim de 2019.

Na última pesquisa Focus, a mediana das projeções para o IPCA deste ano deu um salto de 3,65% para 3,82%. Já a estimativa de inflação em 2019 subiu de 4,01% para 4,07%.

A alta do dólar começa a afetar a projeção de inflação do mercado, mas esse movimento ainda parece ser pequeno para forçar o BC a agir. Ou seja, as expectativ­as inflacioná­rias estão ancoradas, mas até quando?

Se as dúvidas sobre a postura fiscal do próximo presidente pressionar o dólar, essas expectativ­as vão andar. Qual o custo-benefício de o BC agir preventiva­mente e subir os juros agora caso, por exemplo, no segundo turno das eleições presidenci­ais a disputa seja entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT)? De um lado, pouparia, em parte, as reservas cambiais. Mas, de outro, o BC entraria de vez no fogo cruzado da campanha eleitoral.

A alta do dólar já afeta a projeção de inflação, mas não para forçar o BC a agir

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil