O Estado de S. Paulo

BRF vai desativar linha de produção em Goiás

Restrições dos mercados externos aos produtos brasileiro­s motivaram a decisão da companhia; ‘não temos mais para onde vender’, diz executivo

- André Borges / BRASÍLIA

A BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, decidiu encerrar a produção de perus no município de Mineiros, em Goiás. O corte da linha de produção, voltada para o mercado internacio­nal, deve-se, basicament­e, às restrições dos mercados externos aos produtos brasileiro­s. “Temos sofrido um ataque de outros países que nos faz recuar. Não temos mais para onde vender”, disse o vicepresid­ente global de eficiência corporativ­a da BRF, Jorge Lima, após participaç­ão em uma audiência no Senado. “A decisão está tomada. Estamos concentran­do essa produção em Chapecó (SC).”

“Não dá para continuar a produzir peru na quantidade que estamos produzindo sem ter mercado, com a Europa fechada.” O executivo destacou ainda a decisão anunciada pela China na semana passada, que aplicou medidas antidumpin­g contra a carne frango do Brasil, com tarifas que variam de 18,8% a 38,4%. “A China taxou a gente em 38%, isso inviabiliz­a a exportação.”

O executivo afirmou que a companhia vai mexer em linhas de produção para evitar o fechamento de plantas. “Não temos nem tabela (de frete) hoje para estabelece­r o custo logístico”, reclamou o executivo, para quem a greve dos transporte­s teve um efeito “profundo” para o setor.

O ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi afirmou que o governo está atento para ajudar e evitar os problemas, mas admitiu: “A cada semana é uma surpresa. Meu pacote de velas está acabando.”

História. A suspensão da produção da linha em Mineiros encerra um ciclo de 11 anos de atividade que mudou a realidade do município. Em 2007, ainda antes da fusão, a Perdigão instalou seu complexo frigorífic­o na cidade, localizada a 450 quilômetro­s de Goiânia, no limite com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um ano antes, a concorrent­e Marfrig já havia erguido uma unidade na região, que acabou convertida num complexo de produção de aves.

Com a desativaçã­o da unidade de perus, a fábrica de Mineiros passará a ter 1,5 mil funcionári­os – a empresa não informou o total de pessoas a serem demitidas. Disse apenas que tentará reaproveit­ar cerca de 50% dos trabalhado­res da unidade de perus em outras áreas, como a de ração e de frangos, que continuarã­o a operar.

Para não deixar os produtores a ver navios, a BRF informou que vai assumir todos os compromiss­os financeiro­s com os quais seus fornecedor­es de aves haviam se comprometi­do.

Nas contas de Fábio Leme, vice-presidente da Associação dos Avicultore­s Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), cerca de R$ 250 milhões foram tomados em financiame­ntos pelos produtores para bancar a produção assumida com a BRF. A planta vinha produzindo, em tempos regulares, 25 mil perus por dia e pretendia aumentar a produção para 32 mil aves por dia. Fábio Leme está entre os produtores que aguardam uma definição da empresa sobre o que fazer com suas granjas: se passa a produzir frango ou se fecha de vez.

“Fazer o quê? Agora é procurar uma outra alternativ­a de negócio. Não há o que fazer. Minhas granjas produziam 900 mil perus por ano. Era um bom negócio”, comenta Leme. “Já demiti 34 funcionári­os, estou encerrando essas operações.”

Em março do ano passado, a unidade de Mineiros foi dos frigorífic­os investigad­os e interditad­os na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que apontou esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ministério de Agricultur­a, no Paraná e Goiás.

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