BRF vai desativar linha de produção em Goiás
Restrições dos mercados externos aos produtos brasileiros motivaram a decisão da companhia; ‘não temos mais para onde vender’, diz executivo
A BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, decidiu encerrar a produção de perus no município de Mineiros, em Goiás. O corte da linha de produção, voltada para o mercado internacional, deve-se, basicamente, às restrições dos mercados externos aos produtos brasileiros. “Temos sofrido um ataque de outros países que nos faz recuar. Não temos mais para onde vender”, disse o vicepresidente global de eficiência corporativa da BRF, Jorge Lima, após participação em uma audiência no Senado. “A decisão está tomada. Estamos concentrando essa produção em Chapecó (SC).”
“Não dá para continuar a produzir peru na quantidade que estamos produzindo sem ter mercado, com a Europa fechada.” O executivo destacou ainda a decisão anunciada pela China na semana passada, que aplicou medidas antidumping contra a carne frango do Brasil, com tarifas que variam de 18,8% a 38,4%. “A China taxou a gente em 38%, isso inviabiliza a exportação.”
O executivo afirmou que a companhia vai mexer em linhas de produção para evitar o fechamento de plantas. “Não temos nem tabela (de frete) hoje para estabelecer o custo logístico”, reclamou o executivo, para quem a greve dos transportes teve um efeito “profundo” para o setor.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi afirmou que o governo está atento para ajudar e evitar os problemas, mas admitiu: “A cada semana é uma surpresa. Meu pacote de velas está acabando.”
História. A suspensão da produção da linha em Mineiros encerra um ciclo de 11 anos de atividade que mudou a realidade do município. Em 2007, ainda antes da fusão, a Perdigão instalou seu complexo frigorífico na cidade, localizada a 450 quilômetros de Goiânia, no limite com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um ano antes, a concorrente Marfrig já havia erguido uma unidade na região, que acabou convertida num complexo de produção de aves.
Com a desativação da unidade de perus, a fábrica de Mineiros passará a ter 1,5 mil funcionários – a empresa não informou o total de pessoas a serem demitidas. Disse apenas que tentará reaproveitar cerca de 50% dos trabalhadores da unidade de perus em outras áreas, como a de ração e de frangos, que continuarão a operar.
Para não deixar os produtores a ver navios, a BRF informou que vai assumir todos os compromissos financeiros com os quais seus fornecedores de aves haviam se comprometido.
Nas contas de Fábio Leme, vice-presidente da Associação dos Avicultores Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), cerca de R$ 250 milhões foram tomados em financiamentos pelos produtores para bancar a produção assumida com a BRF. A planta vinha produzindo, em tempos regulares, 25 mil perus por dia e pretendia aumentar a produção para 32 mil aves por dia. Fábio Leme está entre os produtores que aguardam uma definição da empresa sobre o que fazer com suas granjas: se passa a produzir frango ou se fecha de vez.
“Fazer o quê? Agora é procurar uma outra alternativa de negócio. Não há o que fazer. Minhas granjas produziam 900 mil perus por ano. Era um bom negócio”, comenta Leme. “Já demiti 34 funcionários, estou encerrando essas operações.”
Em março do ano passado, a unidade de Mineiros foi dos frigoríficos investigados e interditados na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que apontou esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ministério de Agricultura, no Paraná e Goiás.