Cantora brasileira interpreta nono papel masculino
Mezzo-soprano Luisa Francesconi celebra 20 anos de carreira cantando o jovem Octavian, tema de sua pesquisa
Ao longo da história da ópera, não são poucos os casos de papéis masculinos escritos para serem interpretados por vozes femininas. De um lado, do ponto de vista do timbre, o uso da voz grave feminina pode ajudar na caracterização de um homem jovem, um adolescente, cuja voz ainda está se formando – e, no caso do Octavian de O Cavaleiro da Rosa, há ainda a homenagem que Strauss faz ao personagem Cherubino, da ópera As Bodas de Fígaro, de Mozart, mais famoso papel travestido.
Para a mezzo-soprano Luisa Francesconi, no entanto, não se pode deixar de acrescentar à escolha de Strauss o fato de que, escrita no começo do século 20, O Cavaleiro da Rosa dialoga com o clima de seu tempo, em que o desejo e a sensualidade são temas importantes. “Basta levarmos em consideração que a primeira cena da ópera se dá no quarto da Marechala, onde ela e Octavian estão juntos, e que a música se esforça para sugerir um ato sexual entre os dois”, explica ela.
Octavian é o “nono homem” de sua carreira, lembra a mezzo, que já interpretou Oberon em Sonho de Uma Noite de Verão, de Britten, e Tancredi, na ópera de mesmo nome de Rossini, entre outros. “Esses papéis me marcaram de tal forma que acabaram se tornando tema de minha tese de mestrado, que vou defender no próximo mês”, conta ainda Luisa, que nasceu em Brasília. “E é interessante perceber o quanto, como uma mulher, interpretar um papel masculino, entrar nesse personagem, faz compreender uma série de estereótipos impostos pela sociedade ao gênero”.
Com esse espetáculo, Luisa Francesconi completa 20 anos de carreira. “Este é um papel difícil, musicalmente e também do ponto de vista cênico. Para cada relação, com a Marechala, com Sophie, há um elemento novo a ser tratado. Por isso, acho que cantá-lo é o ponto culminante de um processo intenso de aprendizagem”, acrescenta.”