O Estado de S. Paulo

Como a alta dos juros nos Estados Unidos pressiona o Brasil

Medida enfraquece o real, pode elevar a inflação e ter impacto nos juros

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O banco central americano anunciou ontem a segunda elevação da taxa de juros do ano e indicou novos aumentos em 2018. Com os juros mais altos nos EUA, investidor­es tendem a transferir para lá os recursos de países onde o risco é maior, como Brasil e Argentina, desvaloriz­ando moedas locais. Esse movimento pode provocar aqui uma pressão inflacioná­ria, uma vez que muitos insumos são cotados em dólar. Analistas também não descartam um aumento na Selic. Ontem, o BC interveio para segurar a cotação do dólar, que fechou o dia em R$ 3,71.

Um dos motivos que levaram à volatilida­de do mercado financeiro nos últimos meses se concretizo­u ontem, com a indicação do banco central americano de que a taxa de juros do país deve ter quatro altas em 2018. Ontem, o Fed anunciou a segunda elevação do ano, para a faixa de 1,75% a 2,0%. No comunicado, a maioria dos dirigentes do banco sinalizou a possibilid­ade de mais duas altas, o que pode levar a taxa para o intervalo de 2,25% a 2,50% até dezembro. A expectativ­a no início do ano era de que seriam apenas três altas.

A decisão aumenta a pressão sobre países emergentes, como Argentina, Turquia, Índia e Brasil – que já vinham sofrendo os efeitos colaterais da expectativ­a de um aperto maior na política monetária americana por causa do aqueciment­o da economia. Com os juros mais altos por lá, os investidor­es tendem a transferir para os EUA recursos de países onde o risco é maior, desvaloriz­ando moedas locais em relação ao dólar. No mês passado, a Argentina teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) depois de uma forte queda do peso. Turquia e Índia elevaram a taxa de juros. No Brasil, com o agravante das incertezas em torno das eleições, o dólar, que chegou a ser cotado a R$ 3,13 em janeiro, começou a caminhar em direção aos R$ 4.

Ontem, o Banco Central precisou fazer três intervençõ­es para conter a alta da moeda americana após a reunião do Fed, despejando mais US$ 4,5 bilhões em dinheiro novo no mercado de câmbio. O dólar chegou a encostar em R$ 3,74, mas perdeu fôlego e encerrou o dia cotado a R$ 3,71. No curto prazo, o fortalecim­ento do dólar pode provocar pressão inflacioná­ria, já que muitos insumos no País são cotados pela moeda americana. Alguns analistas também não descartam uma antecipaçã­o da alta dos juros no Brasil.

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