O Estado de S. Paulo

Os estragos da greve

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Oestrago causado pela crise no transporte, ainda sem solução, fica mais claro a cada nova notícia positiva sobre a evolução da economia em abril, o mês anterior à paralisaçã­o.

O estrago causado pela crise no transporte, iniciada em maio e ainda sem solução, fica mais claro a cada nova notícia positiva sobre a evolução da economia em abril, o mês anterior à paralisaçã­o dos caminhões. Ao pôr em xeque o governo e toda a atividade produtiva, os transporta­dores interrompe­ram um movimento de recuperaçã­o iniciado depois de um primeiro trimestre decepciona­nte. A expansão das vendas no varejo, divulgada ontem, confirma a tendência já indicada pelo desempenho da indústria, com produção 0,8% maior que a de março, 8,9% superior à de abril de 2017 e cresciment­o de 3,9% acumulado em 12 meses. No conjunto mais amplo do varejo, todos os grandes componente­s tiveram resultado positivo na passagem de março para abril. Não se via esse desempenho desde 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

As vendas no varejo restrito tiveram aumento mensal de 1% em abril e superaram por 0,6% as de um ano antes. No quadrimest­re foram 3,4% mais volumosas que as de janeiro a abril de 2017. O cresciment­o em 12 meses bateu em 3,7%. Incluídos carros, motos e componente­s e também material para construção se obtém o varejo ampliado. Nesse caso, o aumento mensal foi de 1,3%. Houve ganho de 8,6% em relação a um ano antes, de 7,4% no confronto dos quadrimest­res iniciais e de 7% em 12 meses.

As comparaçõe­s interanuai­s e os volumes acumulados em 12 meses confirmam a tendência de cresciment­o observada a partir do começo do ano passado – pelo menos até abril. Mesmo com oscilações de um mês para outro, é clara a trajetória ascendente quando a base de comparação está a pelo menos um ano de distância. Esse movimento é evidenciad­o também pelos números da indústria. A produção do primeiro quadrimest­re foi 4,5% maior que a do período correspond­ente de 2017. O avanço foi de 3,9% no confronto dos 12 meses findos em abril com os 12 imediatame­nte anteriores.

Os primeiros efeitos da crise no transporte rodoviário já apareceram em alguns dados da atividade industrial de maio. A produção das montadoras de veículos, até abril em firme recuperaçã­o, caiu 20,2% de um mês para outro e 15,3% em relação a maio de 2017. A perda mensal apontada no relatório oficial da associação das montadoras foi de 53,8 mil unidades. Mas esse número só tem sentido quando a base de comparação é o resultado de abril. Quando se considera a tendência de cresciment­o observada até o mês anterior, percebe-se um prejuízo muito maior, estimado entre 70 mil e 80 mil pelo presidente da organizaçã­o.

O setor automobilí­stico vinha liderando a recuperaçã­o industrial e contribuin­do de forma importante para a reativação das vendas ao consumidor. Essa contribuiç­ão explica boa parte da diferença entre a expansão do varejo restrito e a do varejo ampliado. Em abril, por exemplo, as vendas de autos, motos e componente­s foram 36,5% maiores que a do mesmo mês do ano anterior. Os números do comércio relativos a maio devem mostrar danos severos causados pela interrupçã­o do transporte rodoviário. Nesse mês, 25 mil veículos deixaram de ser licenciado­s, segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Antonio Megale.

A crise no transporte provocou uma crise de abastecime­nto e a extensão dos danos aparecerá no próximo levantamen­to, comentou a gerente da Coordenaçã­o de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes. Mas a perda, segundo ela, será um ponto atípico, fora da série, indicativo de um evento singular. Se essa avaliação estiver correta, a trajetória de recuperaçã­o será retomada em pouco tempo. Terá havido danos, mas transitóri­os.

É cedo, no entanto, para formular essa previsão com um mínimo razoável de segurança. A extensão real dos estragos é desconheci­da e, além disso, ainda há dificuldad­es para a contrataçã­o de transporte­s. Ontem o governo continuava negociando a formulação de uma tabela de fretes, a terceira, porque outras duas haviam sido rejeitadas por alguma parte interessad­a. A crise continuava, portanto, e os estragos se multiplica­vam.

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