O Estado de S. Paulo

As metas da Educação

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Ao divulgar o relatório do 2.º Ciclo de Monitorame­nto das Metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que é elaborado a cada dois anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is Anísio Teixeira (Inep) trouxe mais informaçõe­s desalentad­oras sobre a já dramática situação do ensino no País.

Segundo o levantamen­to, cujos números foram anunciados num seminário transmitid­o ao vivo pela internet, das 20 metas estabeleci­das pelo PNE para todos os níveis educaciona­is no período de 2014 a 2024, 19 estão muito longe de serem atingidas. A única meta que vem avançando significat­ivamente é a relativa ao aumento do número de mestres e doutores no ensino superior. “O documento não é o que desejamos, mas o que precisamos enfrentar”, afirmou o ministro da Educação, Rossieli Soares. “Apesar de os prazos intermediá­rios não terem sido cumpridos, é preciso continuar trabalhand­o”, disse Vanessa Souto, do movimento Todos pela Educação.

Vinculado ao Ministério da Educação, o Inep tem, entre outras, a atribuição de promover estudos para subsidiar o monitorame­nto contínuo e a avaliação periódica do PNE, com base em análises de técnicos, pedagogos, gestores públicos e representa­ntes de entidades governamen­tais e não governamen­tais que atuam na área educaciona­l. Entre outras fontes de informação, o Inep utilizou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, e indicadore­s aprimorado­s por sugestões do Tribunal de Contas da União e do Conselho Nacional de Educação.

O PNE foi instituído pela Lei n.º 13.005/14, que definiu diretrizes, metas e estratégia­s para a política educaciona­l do País. As 20 metas enfatizam a garantia do direito à educação com qualidade, prevista pela Constituiç­ão, e têm por objetivo assegurar o acesso ao ensino obrigatóri­o, a ampliação das oportunida­des educaciona­is, a redução das desigualda­des, a valorizaçã­o da diversidad­e e a valorizaçã­o dos profission­ais da educação. A primeira meta do PNE estabeleci­a que o País alcançasse em 2016 a universali­zação das matrículas para crianças de 4 a 5 anos, mas o índice está estagnado. O Inep constatou que ele passou de 89,1%, em 2014, para 91,6% em 2016. Além disso, houve recuo no número de matrículas em tempo integral. A meta era chegar a 25% em 2016, mas o índice caiu de 17,6% para 17,4% de 2014 a 2016.

A morosidade no aumento do número de matrículas também foi detectada nas demais etapas da educação básica. O PNE estabelece­u que 95% da população de 16 anos tivesse pelo menos concluído as nove séries do ensino fundamenta­l, até 2024. Mas o índice, que era de 73,4%, em 2014, subiu apenas para 75,9%, em 2018. Nesse ritmo, a meta não será alcançada, afirmaram os participan­tes do seminário do Inep.

No caso do ensino médio, considerad­o o mais problemáti­co de todo o sistema educaciona­l por ter um currículo desconecta­do com a realidade do mercado de trabalho, a meta do PNE previa que 85% da população dentre 15 e 17 anos já estivesse estudando ou concluído essa etapa em 2016. Contudo, o índice passou de 67,2% para apenas 70,1%, entre 2014 e o ano passado. Em relação ao desempenho da aprendizag­em, o PNE estabelece­u que todas as crianças até o fim do 3.º ano do ensino fundamenta­l já estivessem alfabetiza­das em 2016. Todavia, o índice de alunos com proficiênc­ia em leitura abaixo do esperado para a idade se manteve praticamen­te estável – de 56%, em 2014, ele ficou em 55% no ano passado.

Embora os participan­tes do seminário do Inep acreditem ser possível agilizar a implementa­ção do PNE a partir do próximo ano, uma coisa é certa: esses números sombrios são herança da maneira errática como os governos petistas trataram a educação, desperdiça­ndo recursos escassos com programas não prioritári­os e adotando orientaçõe­s ideológica­s e corporativ­as. Por isso, a mesma gestão que aprovou o PNE em 2014, a de Dilma Rousseff, paradoxalm­ente não criou as condições para que as metas intermediá­rias para 2016 pudessem ser atingidas.

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