O Estado de S. Paulo

Siglas pagam salários de até R$ 27 mil

Levantamen­to do ‘Estado’ com base em dados do TSE mostra que dirigentes partidário­s recebem vencimento­s superiores a de governador­es

- Felipe Frazão Thiago Faria / BRASÍLIA

Presidente­s e dirigentes partidário­s recebem das legendas salários que chegam a R$ 27,5 mil por mês. Os dados constam nas prestações de conta dos partidos, referentes ao ano passado, enviadas à Justiça Eleitoral. Esse valor é superior, por exemplo, aos vencimento­s de governador­es, como o de São Paulo – R$ 22,3 mil por mês.

Levantamen­to feito pelo Estado nas contas de 35 partidos aponta que 12 legendas pagaram vencimento­s a seus dirigentes no ano passado que variaram entre R$ 27,5 mil – caso do nanico PRP – e R$ 4,1 mil, como o PCB (mais informaçõe­s nesta página).

A remuneraçã­o dos dirigentes partidário­s é permitida, seja com dinheiro público – recebido por meio do Fundo Partidário – ou privado – arrecadado em doações externas e contribuiç­ões de filiados. Em abril, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reafirmou, por maioria de votos, que os dirigentes podem ser pagos com verbas do Fundo Partidário, sem que haja necessidad­e de comprovaçã­o das atividades desempenha­das nas siglas.

Por lei, a direção nacional dos partidos pode gastar com funcionári­os até 50% da parcela que recebe do Fundo Partidário. No caso de diretórios municipais e estaduais, o limite é maior: 60%. Ministros do TSE e a Procurador­ia-Geral Eleitoral, porém, têm cobrado que os partidos estabeleça­m critérios transparen­tes de remuneraçã­o, registrado­s em estatutos e normas internas.

Em geral, os partidos não remuneram dirigentes que ocupam concomitan­temente outros cargos eletivos. Não há nas prestações de contas registros de pagamentos para os presidente­s do PSDB, o pré-candidato ao Planalto e ex-governador Geraldo Alckmin; do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR); do PCdoB, a deputada Luciana Santos (PE); do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto; e do MDB, o senador Romero Jucá (RR).

O PSD também não registra repasses a seu presidente licenciado, Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es. Integrante­s da cúpula do partido que não possuem outros cargos são destinatár­ios de parcelas, como a coordenado­ra do PSD Mulher, a ex-vice-prefeita de São Paulo Alda Marco Antônio (R$ 25 mil).

Depois do PRP, o PV é o partido que pagou o maior valor – R$ 26 mil ao ex-deputado José Luiz Penna, presidente nacional da legenda. Penna não foi localizado ontem.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que recebe até hoje R$ 25 mil, considera o valor “razoável” e pondera que poucas pessoas da Executiva Nacional recebem salário, arbitrado pela própria direção. “A remuneraçã­o é para quem tem dedicação exclusiva. Por um período longo em que eu era dirigente e advogava, não recebia. Não tenho emprego público e, hoje, não me sobra tempo, fica impossível eu me dedicar à minha profissão, que rendia muitíssimo mais”, disse Siqueira.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, confirmou receber os recursos. “O valor serve para cobrir diversas despesas, almoço, jantar, táxi e etc.” Lupi recebe R$ 12 mil do PDT, menos que o vice-presidente da legenda e pré-candidato à Presidênci­a da República, Ciro Gomes, cuja remuneraçã­o é de R$ 21,1 mil. Ambos aparecem no balanço do partido como prestadore­s de serviço técnico-profission­al e não na folha de pessoal.

Alvo da Operação Registro Espúrio, que investiga irregulari­dades no Ministério do Trabalho, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, recebeu parcelas de R$ 23 mil ao longo do ano passado. Procurado, Jefferson não respondeu aos questionam­entos do Estado.

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JF DIORIO/ESTADÃO–15/8/2017 Pagamentos. Presidente do PTB, Roberto Jefferson é um dos dirigentes que recebem salário de partido

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