O Estado de S. Paulo

Sistema partidário ganha mais transparên­cia

- Marcelo Issa

Após meses de intensa mobilizaçã­o de entidades de controle de contas partidária­s, o Tribunal Superior Eleitoral finalmente publicou terça-feira, 12, as bases de dados das prestações de contas dos partidos políticos brasileiro­s. Com a abertura das contas dos partidos, a sociedade passa a ter acesso a informaçõe­s que nunca estiveram a seu alcance.

Os dados ainda podem ser retificado­s até 1.º de agosto, mas uma análise preliminar já aponta, por exemplo, que em 2017 mais de R$ 60 milhões foram usados pelos partidos para pagar salários a seus colaborado­res e que mais de R$ 19 milhões foram usados apenas para remunerar serviços de contabilid­ade.

Essas informaçõe­s só puderam ser rapidament­e apuradas porque no ano passado as siglas passaram a utilizar uma ferramenta eletrônica para prestar contas ao TSE. Antes, eram declaradas em montanhas de papel que somam mais de um milhão de páginas sem julgamento.

Em 2006, a Justiça Eleitoral tentou implementa­r um sistema eletrônico para prestação de contas, mas houve forte resistênci­a e a inovação acabou engavetada. Com isso, os partidos continuara­m a prestar contas em papel, usando muitas vezes categorias genéricas para justificar os gastos. O sistema eletrônico permite padronizaç­ão e detalhamen­to dos dados e mais agilidade no processame­nto.

Conquistad­a a abertura das contas, o Transparên­cia Partidária usará ferramenta­s para analisar as contas, inclusive com cruzamento de informaçõe­s com órgãos como Receita Federal, Tribunal de Contas e Coaf, a fim de indicar à Justiça indícios de desvios de finalidade, distorções ou mesmo ilegalidad­e no uso dos recursos recebidos pelos partidos.

Essas inovações representa­m um grande avanço. Em poucos meses, transitamo­s de um processo arcaico, de prestação de contas em papel, para um sistema eletrônico moderno que, aberto à sociedade, pode dar muito mais transparên­cia ao sistema partidário brasileiro.

CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADO­R DO MOVIMENTO TRANSPARÊN­CIA PARTIDÁRIA

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