O Estado de S. Paulo

EUA querem Kim sem maior parte de arsenal até 2020

Desafio. Criticado internamen­te, governo do presidente Donald Trump defende negociação com ditador da Coreia do Norte e, ao mesmo tempo, tenta acalmar aliados americanos na Ásia preocupado­s com a interrupçã­o dos exercícios militares com os sul-coreanos

- WASHINGTON / NYT, W. POST e

Um dia depois do encontro histórico em Cingapura, o governo americano saiu ontem em defesa da negociação com Pyongyang que, segundo o secretário de Estado, Mike Pompeo, permitirá um “grande desarmamen­to” na Coreia do Norte até 2020. Donald Trump, por sua vez, tuitou que, graças a ela, a ditadura de Kim Jong-un “não representa mais uma ameaça” ao mundo.

Pompeo concedeu uma entrevista coletiva em Seul na qual afirmou que, nos próximos dois anos e meio – até o fim do primeiro mandato de Trump –, haverá um avanço significat­ivo sobre o arsenal nuclear norte-coreano, ainda que os detalhes de como isso ocorrerá não tenham ficado claros. Mas o governo não quer ser questionad­o e, segundo Pompeo, as críticas sobre falhas no plano anunciado são “insultante­s, ridículas e grotescas”.

Trump e Kim tiveram um histórico encontro em Cingapura na terça-feira, o primeiro entre líderes em exercício dos dois países. O republican­o afirmou que os EUA congelaria­m seus exercícios militares com a Coreia do Sul enquanto a Coreia do Norte negociasse a desnuclear­ização.

Em uma série de tuítes que começaram a ser postados assim que o Air Force One pousou ontem em Washington, retornando de Cingapura, Trump defendeu sua proeza e provocou seu antecessor. “Antes de assumir o cargo, as pessoas estavam imaginando que iríamos à guerra com a Coreia do Norte. O presidente (Barack) Obama dizia que a Coreia do Norte era nosso maior e mais perigoso problema. Não mais – durmam bem hoje à noite”, escreveu ele, se referindo ao ex-presidente democrata, que, assim como Trump, negociou um pacto nuclear com um Estado inimigo dos EUA, o Irã, desfeito pelo atual presidente.

De volta à capital americana, Trump terá de enfrentar o ceticismo de democratas e de colegas do próprio partido. Ainda que vários congressis­tas e analistas tenham aplaudido os esforços de Trump, persistiam dúvidas sobre o que realmente mudou após a cúpula.

Os adversário­s democratas ponderaram que a Coreia do Norte já fez promessas parecidas no passado sobre desnuclear­ização, mas, ao mesmo tempo, desenvolve­u armas nucleares e mísseis balísticos capazes de alcançar os EUA. “Uma viagem e a missão está cumprida, sr. Presidente? A Coreia do Norte ainda tem seus mísseis nucleares e apenas tivemos uma vaga promessa de uma futura desnuclear­ização de um regime que não se pode confiar”, questionou Adam Schiff, o democrata em mais alta posição na Comissão de Inteligênc­ia da Câmara dos Deputados.

Trump recebeu críticas do senador republican­o Lindsey Graham por dizer que os EUA economizar­ão “fortunas” se deixarem de fazer os exercícios de guerra na Coreia do Sul enquanto as negociaçõe­s com o Norte prosseguir­em. “Não é queimar o dinheiro do contribuin­te americano destacar uma força para a Coreia do Sul. Isso traz estabilida­de. É um alerta à China de que ela não poderá tomar toda a região”, afirmou.

Os EUA mantêm cerca de 28,5 mil soldados na Coreia do Sul, país que está tecnicamen­te em estado de guerra com o Norte desde a Guerra da Coreia (1950-1953).

Opinião pública. Aliados americanos na Ásia veem os exercícios como cruciais para a segurança na região. A ida de Pompeo a Seul logo após a cúpula teve o objetivo de aplacar as preocupaçõ­es dos aliados. Ele se reuniu com o comandante das Forças Armadas EUA-Coreia do Sul, Vincent Brooks, e tinha encontros previstos com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e com o ministro das Relações Exteriores do Japão, Taro Kono, que viajaria para o país vizinho. Ele planejava ainda visitar Pequim para informar ao governo chinês sobre as conversas diplomátic­as.

Em Pyongyang, a imprensa estatal norte-coreana elogiou a reunião e a considerou um “sucesso estrondoso”, destacando as concessões de Trump ao regime de Kim. Segundo a KCNA, a agência oficial, o encontrou abriu a perspectiv­a de uma “nova era de paz e prosperida­de”.

Uma pesquisa feita pelo Pew Research Center mostrou que sete em cada dez americanos aprovam o diálogo entre Trump e Kim. Apesar do apoio, muitos duvidam que o avanço nas negociaçõe­s seja realmente significat­ivo. Cerca de 50% dos entrevista­dos disseram acreditar que a Coreia do Norte não encara de forma séria as preocupaçõ­es sobre seu programa nuclear. Além disso, 75% disseram ver o programa nuclear nortecorea­no como uma ameaça grave aos EUA.

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KCNA/REUTERS Louros. Agência oficial norte-coreana elogia concessões de Trump a Kim (D) em Cingapura

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