Questão do aborto divide argentinos
Em meio à pressão popular, a Câmara argentina votava ontem, pela primeira vez em sua história, um projeto de lei sobre a legalização do aborto no país. Manifestantes pró e contra o aborto tomaram os dois lados da avenida em frente ao Congresso e prometiam permanecer ali até o final da votação. A sessão começou ontem às 11h30 locais (10h30 em Brasília) e poderia se estender até a madrugada de hoje. Em caso de aprovação, o projeto que permite o aborto até a 14.ª semana de gestação será encaminhado ao Senado.
“Há razões de saúde pública. Tivemos três ministros da Saúde, os três com visões distintas por pertencerem a governos diferentes, e eles coincidiam que a legalização do aborto melhora a atenção de saúde das mulheres argentinas”, disse o deputado Daniel Lipovetzky, responsável por conduzir os debates.
Até agora na Argentina, o aborto só é permitido em caso de estupro ou de risco para a vida da mulher. A Argentina, país do papa Francisco e fortemente influenciado pela Igreja Católica, foi pioneira na América Latina na aprovação do casamento igualitário. No entanto, a questão do aborto nunca tinha sido discutida no Parlamento. Apesar de ter se declarado “em favor da vida”, o presidente Mauricio Macri incentivou o debate, após o fracasso nos governos anteriores.
No continente. Na América Latina, o aborto sem restrições é legal no Uruguai e em Cuba. Também é permitido na Cidade do México. Em quase todos os demais países é permitido apenas no caso de risco para a mulher, quando não há chance de sobrevivência do feto ou se a gravidez for resultado de um estupro. Em El Salvador, Honduras e Nicarágua ele é proibido completamente.
O debate parlamentar sobre a descriminalização do aborto, considerado até agora um tabu na Argentina, provocou debates em numerosos colégios de todo o país e os estudantes começaram a liderar a campanha para obter a liberação.
Os estudantes ocuparam várias escolas públicas de Buenos Aires na terça-feira e ontem tomaram as imediações do Congresso para exigir que os deputados aprovassem a lei de aborto legal, seguro e gratuito e anulassem a atual legislação, que data de 1921.